Livro do dia: Platero e eu

Livro do dia: Platero e eu

Posted by Kátia

Hoje faz um ano que a minha Sally virou um anjo no céu e eu quero falar sobre como o amor dela me transformou e me inspirou. Escolhi então um livro que é Amor do início ao fim. Não apenas uma demonstração de amizade entre um menino e seu bichinho de estimação, mas a mais verdadeira história de amor, devoção e lealdade que pode existir entre dois seres, sejam eles humanos ou animais. Eu, que fui honrada com o amor incondicional dela, me emociono e choro muito com este livro. Na verdade, eu o li há uns bons anos atrás (a minha edição é de 1997, mas a edição nova, ilustrada e bilíngue é muito mais bonita), no entanto fiz uma nova leitura agora, e o achei ainda mais belo e cativante. É como se o autor estivesse expressando com palavras perfeitas tudo o que carrego dentro de mim. Não tem sentimento melhor do que esse, é um livro que apazigua e acalenta minha alma. 

Platero e eu conta as memórias de infância do próprio autor, o Prêmio Nobel de Literatura Juan Ramón Jiménez (1881-1958), em suas caminhadas pela bela paisagem andaluza ao lado de seu burrinho Platero. É a simplicidade do dia a dia vista pelos olhos de uma criança, que se encanta a cada pétala de rosa caída. Da mesma forma, os acontecimentos trágicos atingem dimensões épicas. Ele sente tudo de forma intensa. Mas a beleza suprema está no amor quase filial que sente por Platero. Este, por sua vez, é feito de “aço e luar”. Personalidade forte, ciumenta, afeto puro pelo menino. 

Nada escapa aos olhos e ouvidos atentos do menino, que compartilha todas as experiências com o amigo. Um eclipse solar, a malhação do Judas, uma guerra de figos maduros, uma chuva de rosas de todas as cores. O menino faz uma promessa a Platero, garante que o enterrará junto ao pinheiro preferido, caso o burrico morra primeiro (esse trecho é tão poético que me desmanchei em mil pedaços) As crianças brincariam sobre Platero e ele poderia ouvir os versos que a saudade inspirasse. Lindo. O menino sente uma necessidade imensa de proteger e cuidar do burrinho e vemos esse amor se manifestando o tempo todo, como por exemplo, no episódio em que retira docemente o espinho da pata do burro ou quando o livra de uma importuna sanguessuga. 

Há espaço para críticas sociais sutis, como as crianças miseráveis que se vangloriam do pouco que tem ou o padre que fora da igreja só maltrata os pequeninos. Mas do meu ponto de vista, o que vale mesmo é o Amor, e isso o menino e Platero têm de sobra: eles amam o perfume das campânulas e dos lírios, o púrpura do crepúsculo, a grama tenra, o canário dourado, o cheiro do pão quentinho, o pinheiro da montanha. Os olhos de Platero, pretos como azeviche e belos como duas lindas rosas, enxergam no menino, no “eu” do título, uma alma consonante. Una com a beleza, una com a sinceridade, una com a verdade. Bem-aventurados sejam os que crescem em tamanho, mas conseguem manter esse coração de criança intacto. Um livro que pode – e deve – ser seu companheiro de infância. Daqueles companheiros que permanecem a vida inteira. Como a memória da minha ♥ Sally ♥ 

Platero e eu
Autor: Juan Ramón Jiménez
Ilustrador: Javier Zabala
Editora: WMF Martins Fontes
Temas: Amor; Universo infantil
Faixa etária: À partir de 10 anos 

Assista também: Ainda dá tempo de assistir no cinema o longa de animação Frankenweenie (2012), dirigido pelo genial Tim Burton. Aqui, um menino inconformado com a morte de seu cão e melhor amigo Sparky, utiliza os conhecimentos adquiridos nas aulas de ciência e faz um experimento de retumbante sucesso. O reencontro de Victor e Sparky, com o cachorrinho todo remendado como a criatura de Frankenstein me fez soluçar de tanto chorar. Detalhe: A história é baseada em memórias de Tim Burton, que também teve o amor verdadeiro do seu Sparky. O meu novo filme preferido, perfeito!!!

O amor da minha vida, eternamente...
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