Certos livros entram em sua vida de maneira impactante e permanecem lá a vida inteira, intocados. Eu já conhecia o livro dos ursos na Sicília (afinal, o meu pai nasceu lá e eu adoro os escritores italianos!), mas passou a fazer parte de mim quando encontrei aquela pessoa única, cheia de opiniões fortes e um tanto rebelde: o meu amigo Roberto. Hoje é aniversário dele (ipi, ipi, hurra, Bob!!!) e por isso falarei sobre esta obra que é uma das nossas grandes paixões. 

Tudo começa com a decisão do rei urso Leôncio de descer das montanhas da Sicília (lindas, porém gélidas) até a cidade, em busca do filho Tônio que fora raptado anos antes por caçadores. É grande também o seu desejo de alimentar o povo, que passa por necessidades. Mas eis que surge o Grão-Duque malvado, que tinha recebido informações quentíssimas de seu astrólogo De Ambrosiis: suas previsões diziam que uma armada invencível desceria das montanhas e se apoderaria de todo o reino. Os ursos são atacados e o astrólogo se aproxima deles, com o intuito de fazer uma mágica poderosa (ele tinha uma varinha que poderia somente fazer dois feitiços, hilário!) e derrotá-los definitivamente. Mas o que acontece? De Ambrosiis vê-se no meio de um ataque de ferozes javalis e tem que usar um dos seus feitiços para salvar os ursos e a si mesmo. Aliás, as ilustrações do próprio autor são fenomenais! Quando De Ambrosiis lança o encantamento, os javalis viram balões e começam a voar. O máximo!!! 

O astrólogo está furioso com os ursos, afinal ele só tem mais um feitiço e é tudo culpa deles! Para se vingar, primeiro os leva até o castelo de Rocca Demona, habitado por fantasmas. A noite termina em dança e festa, quando o rei Leôncio reencontra os fantasmas dos guerreiros ursos tombados em batalha. Seguem então para um outro castelo, o Tremontano, sempre com a desculpa de procurarem pelo ursinho Tônio. No Tremontano vive o papão Troll, que tem como defensor o monstro Gato Mamão. Seria o fim de nossos amigos se não fosse a engenhosidade do urso Esmeril. Antes de entrar na cidade, os bravos ursos terão que enfrentar mais batalhas. Será que eles encontrarão o filho perdido do rei? 

E quando você acha que chegou no final da história, está ainda na metade! Uma leitura sofisticada e irreverente, que mistura prosa e poesia e leva às gargalhadas. Uma jornada que mostra o pior e o melhor do homem e do animal. Sim, os ursos são corrompidos pelo homem, porque a história se passa numa época em que “as feras eram boas e os homens abomináveis”. Qualquer semelhança com a nossa época é mera coincidência, ok? Enfim, uma obra-prima, aqui numa versão luxuosa em papel couchê e a tão famosa arte de Dino Buzzati.