Já falei aqui da minha admiração pelo impressionante Tomi Ungerer. Estou sempre à procura de seus livros para aumentar minha coleção, o que é uma tarefa e tanto já que estamos falando de um autor prolífico e entusiasmadíssimo com bem vividos 80 anos e dezenas de títulos infantis no currículo. Mas, no caso dos livros, os deuses sempre sorriem para mim e Adelaide, um insólito e belíssimo clássico, pulou praticamente no meu colo. 

Adelaide, escrito em 1959, conta a história de um bebê canguru que nasce com asas. Conforme Adelaide cresce, suas asas vão ficando maiores, mais largas, mais compridas. Ela admira os pássaros e aviões que sobrevoam o deserto e fica se imaginando lá no céu, rumando para países distantes e desconhecidos. 

Então, ela decide se aventurar pelo mundo, despede-se dos pais e segue o primeiro avião que encontra nos ares. O piloto fica abismado, afinal nunca vira um canguru voador na vida. Por onde eles passam, todos admiram Adelaide. Viajam para muitos lugares, até que a canguru decide fixar residência em Paris (sempre Paris, a charmosa, a encantadora, ninguém resiste à ela!). Ao adotar o estilo de vida parisiense, Adelaide tem que aprender a se relacionar com as pessoas, e tem dificuldades com as coisas mais simples, como pegar um táxi. 

Eis que surge então o bom vivant Marius, que a leva a restaurantes refinados e lhe apresenta às belezas da cidade, como a Torre Eiffel e a Catedral de Notre Dame. Adelaide vai trabalhar com Marius em sua casa de shows e logo vira sensação na cidade. Mas ela ainda queria realizar um grande desejo: encontrar um outro canguru. Adelaide é uma personagem apaixonante, que nos dá alguns sustos durante a história, seus traços são tão delicados que dá vontade de pegá-la nos braços e protege-la de todos os perigos. Linda, corajosa, aventureira, obstinada, Adelaide agora faz parte do meu rol de heroínas preferidas da literatura.