Livro do dia: Aldabra - A tartaruga que amava Shakespeare

Livro do dia: Aldabra - A tartaruga que amava Shakespeare

Posted by Kátia

Admito que conheci a autora italiana Silvana Gandolfi por puro acaso: num belo dia deparei-me com o título deste livro e tive a certeza de que uma obra com um nome desses nunca, jamais, em nenhum lugar do mundo seria ruim. Na realidade, não era um lugar qualquer do planeta. Lendo um pouco mais sobre a obra (nada de comprar por impulso!), descobri que a trama se passa em Veneza, uma das cidades mais lindas do mundo e sonho da minha vida. Pronto, estava conquistada. Felizmente, a autora vai muito além do gracioso título e cria uma história linda sobre o amor incondicional entre uma neta e sua avó. 

Elisa é uma menina de dez anos que sente-se extremamente afortunada, afinal ela tem a vovó mais especial de todas! Vovó Eia, com seus longos cabelos brancos e olhos castanhos, um leve sotaque estrangeiro, roupas cintilantes de tão brancas e recendendo a pão de mel e especiarias, é uma contadora de histórias nata. Ela é fascinada pela lenda de um povo antigo, esquecido nos confins do mundo, onde as mulheres, se assim desejassem, nunca morriam. Dominando completamente o corpo e a mente, essas mulheres transformavam-se em alguma outra coisa. Este era o truque para não morrerem. Não era uma tarefa fácil, claro, pois até vovó Eia tentara transformar-se uma vez, não obtendo êxito algum: “Entenda bem, Elisa, só podemos nos transformar em alguma coisa que, lá no fundo da alma, nós já somos.” 

A menina Elisa admira a história de vida da avó, que nascera em Londres e estabelecera-se em Veneza por amor. Depois de viúva tornara-se artista plástica – ela pintava aqueles pequeninos quadros de paisagens de Veneza que tanto agradam aos turistas, mas a sua paixão eram as obras com telas gigantescas que só mostrava para a neta. Agora vovó Eia vive praticamente no ateliê, montado num galpão nos limites da cidade. Elisa a visita quase todos os dias. No sombrio caminho até a morada da avó, a garota perde-se em pensamentos sobre mensagens em garrafas e o fato de ela se identificar com a Chapeuzinho Vermelho, que enfrenta a mata escura para chegar até sua querida vovozinha. No meio de tanto devaneio, surge uma dúvida cruel: por que sua mãe jamais visitava a avó? Eis aqui um mistério que exige reflexão. Elisa via a avó desde bebê, sempre acompanhada por amigas da mãe, até crescer o suficiente e aprender o trajeto. A avó não tinha nenhuma foto da filha em casa e jamais tocava no nome dela. E por que será que a vovó sempre perguntava se a menina preparara o almoço com suas próprias mãos? Muito estranho. A imaginativa Elisa decide investigar os fatos. 

Ao mesmo tempo, ela começa a notar sutis mudanças na personalidade e na aparência da avó. Preocupada, mas sem querer demonstrar medo, Elisa passa as tardes ao lado de vovó Eia a recitar Shakespeare. O mundo pertence às duas, sozinhas numa imensidão de trilhas, flores e uma bela horta para cultivar. No que concerne à descrição da amada Veneza (a autora nasceu em Roma), tudo é perfeito: uma cidade que suscita ao mesmo tempo sentimentos de aconchego e isolamento, formada em sua maioria por cais, embarcadouros, pontes e estaleiros. Para mim é uma das cidades com mais arte por m². Se bobear, tem arte até debaixo d’água! Venha conhecer essa maravilha de lugar conosco, tem até passeio de gôndola, para você gamar de vez. 

Aldabra – A tartaruga que amava Shakespeare
Autora: Silvana Gandolfi
Editora: Rocco
Temas: Amor; Família; Aventura
Faixa etária: A partir de 10 anos 
 
Leia também: Mais um adorável livro ambientado em Veneza, O Senhor dos Ladrões (Ed. Cia das Letras) narra as desventuras de um grupo de crianças órfãs que vive num cinema abandonado. As crianças são protegidas por Scipio, o tal senhor dos ladrões – que, só para fazer um charme extra, usa uma máscara veneziana de carnaval –, um garoto mais velho que rouba casas de luxo para sustentar os pequenos. Mas tudo vira a maior confusão quando Scipio se apossa de um artefato com poderes mágicos. Sensacional!!!

A bucólica Alta Acqua Libreria, em Veneza. Tenho certeza de que a menina Elisa compra os seus livros aqui Smile
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