Livro do dia: Piteco - Ingá

Livro do dia: Piteco - Ingá

Posted by Kátia

Recentemente tive o privilégio de ler o quarto volume da coleção Graphic MSP, que neste primeiro arco contou com releituras de Astronauta, Turma da Mônica (no maravilhoso Laços, leia mais aqui), Chico Bento e Piteco. Para quem ainda não conhece a coleção, o objetivo é o de compartilhar novas histórias dos queridos personagens de Mauricio de Sousa (amo!!!), mas com uma “cara” diferente, retratados por essa nova geração de quadrinistas brasileiros. Um luxo. Piteco – Ingá é no mínimo magnífico: mescla a essência dos já conhecidos personagens pré-históricos de Mauricio com as origens nordestinas de Shiko, artista escolhido para dar nova vida a Piteco, Thuga, Ogra, Beleléu e demais membros da Aldeia de Lem. 

A história de Ingá é comovente e profunda, permeada por muita aventura, fantasia e, claro, amor. O cerne da trama, aliás, é a Pedra de Ingá, que revela uma profecia para o povo de Lem e existe de verdade lá no Agreste da Paraíba. Não só existe como foi o primeiro monumento arqueológico de inscrições rupestres tombado como Patrimônio Nacional, em 1944. De acordo com os arqueólogos, as inscrições foram feitas entre dois e cinco mil anos atrás. É um dos mistérios das civilizações antigas, assim como as Linhas de Nazca, no Peru, e Stonehenge, na Inglaterra. Esse roteiro que já é incrível por si só ganha potência com as belíssimas ilustrações pintadas em aquarela, que nos mostram não somente o embate entre as tribos e sim o duelo entre homens e deuses. Lindo é pouco. 

Mas vamos à história. Tudo começa com a sacerdotisa de Lem, Thuga, contando a lenda das três aldeias: os Homens-Tigre, caçadores; o povo de Ur, coletores de frutos; e Lem, agricultores ou, de forma mais poética, “conhecedores do mapa das estrelas”. Antes um só povo, eles decidiram viver separados, como galhos enfraquecidos de uma mesma árvore. Agora o rio que alimenta Lem secou e o povo precisa sair em busca de um novo lar. A profecia diz que essa jornada poderá servir para reunir novamente os três povos. Piteco, o caçador, está inquieto, ele deseja partir logo e desbravar o mundo à sua frente. Não quer saber de esperar por chuvas, sementes ou a vontade dos céus. Ele precisa de ação. Thuga suspira, pois não compartilha dos ideais de seu amado. Ela sabe a importância de estabelecer raízes e construir um novo lar. Na véspera da partida do povo de Lem, Thuga, a xamã, encara o seu destino - ela é levada pelos Homens-Tigre na calada da noite. 

Piteco, ainda que não seja um guerreiro, não pensa duas vezes e se coloca a caminho para resgatar Thuga. Ele leva consigo o inventor – um tantinho afobado – Beleléu. A jornada da dupla, que logo vira um trio com o acréscimo da (ótima) guerreira Ogra, será repleta de perigos, e quem sai ganhando somos nós leitores! A inventiva saga criada por Shiko lança mão de criaturas de nosso folclore, representando aqui os inimigos e aliados dos heróis. Há a fatal M-Buantan (inspirada na lenda do boitatá), a senhora dos charcos, que desvia os viajantes de seu caminho, fazendo com que morram de fome, cansaço ou desapareçam no lodo; o deus da floresta Arapó-Paco (Curupira), que chega epicamente montado em seu tatu e auxilia o trio com velozes montarias - as aves do terror; o monstro alado Anhanguera, e muitas outras surpresas. Para você saber mais é preciso tomar seu lugar ao lado de Piteco nessa busca. É emoção, é drama, é suspense, é um espetáculo visual do começo ao fim. Uma verdadeira obra-prima. 

Piteco – Ingá
Autor/ilustrador: Shiko
Editora: Panini
Temas: Aventura; Fantasia
Faixa etária: A partir de 10 anos

Assista também: Piteco é uma graphic novel surpreendente, eu nunca imaginei que o personagem pudesse atingir tais dimensões. Surpreendente também é a palavra exata para definir a animação Os Croods (2013). Liderada por um pai zeloso e que tem verdadeiro pavor do mundo exterior, essa família pré-histórica terá suas estruturas abaladas ao tomar contato com o aventureiro Guy, um jovem adepto de “modernidades” como o fogo. O melhor de tudo, na minha opinião, é que eles têm um bicho-preguiça como mascote. Adoro!

Outra maravilha da pré-história brasileira, a Serra da Capivara, no Piauí
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