O menino Hermano (ou Germano, dependendo da tradução) acha a sua vida muito injusta: os pais só têm olhos para a irmãzinha caçula Carla, a escola é chata e ninguém no mundo parece reconhecer os seus múltiplos talentos. Numa segunda-feira chuvosa, o estudante sai aborrecido para a aula, mas a sua imaginação transformará esse simples trajeto numa saga cheia de ação, mistério e fortes emoções. 

Ao bater a porta da rua – numa clara tentativa de chamar a atenção dos pais – Hermano já se transforma no Super-Hermano, que voa escada abaixo na velocidade da luz. Caminhando pelas ruas, logo detém-se na vitrine de uma agência de turismo. E assim transforma-se num gângster vivendo em Chicago ou Xangai, famoso no mundo inteiro, perseguido pela lei e destinado a um final trágico. Em seu último suspiro, o gângster Hermano sussurra o perdão aos pais. Menino dramático que só. Hermano ouve o carrilhão da relojoaria soar, e isso significa que está dez minutos atrasado para a aula. Ele deveria se apressar se não quisesse ouvir o sermão da professora, a senhora Aguadilha. 

Mas o som estridente de sirenes capta seu interesse e o menino contempla, extasiado, a passagem de três caminhões de bombeiro. Em sua cabecinha privilegiada, um incêndio consumia a escola e os bombeiros não conseguiam entrar: precisavam de um guia entre os escombros. Os professores que fugiram encolhem-se de medo, mas não ele, Hermano, o bravo! Ele guia os bombeiros no meio do fogo e da fumaça e, num dos finais alternativos, sobrevive e dá uma entrevista à televisão. O menino retoma o passo, mas tromba com um homem-sanduíche que divulga um espetáculo circense. Nos cartazes, há um palhaço e uma moça de cabelos dourados com uma imensa cobra verde enrolada no corpo. É claro que Hermano começa a devanear novamente. 

O jovem sonhador segue o homem-sanduíche e acredita que este lhe faz um sinal. Na certa procurava ajuda para encontrar a cobra fugitiva e reconhecera o talento de Hermano só de olhar para ele. A cobra Fátima sofria de hidrofobia e, com medo da chuva, refugiara-se num apartamento qualquer. Só que no apartamento havia um bebê, e eis que o impávido garoto chega na hora certa para salvá-lo. Voltando à realidade, Hermano lamenta não ter pedido um emprego no circo. Ele se daria muito bem como palhaço, acrobata, ou melhor ainda, como mágico. O poderoso Mister X! Finalmente o menino percebe que está muito longe da escola e agora não poderia evitar a bronca da professora. 

Em sua travessia infinita, Hermano ainda encontrará uma condessa disfarçada de velhinha, um mendigo que na realidade é um viajante do tempo e um bando de espiões. De volta para casa, ele é recebido por uma mamãe preocupada e ouve do pai uma história épica - a do tal mensageiro de Santa Cruz – que muito se assemelha à sua. Já falei aqui do meu amor pelo escritor alemão Michael Ende, são tantas histórias incríveis que fica difícil eleger uma só. Para além de seus excepcionais (e famosíssimos) romances, os contos narram fábulas com animais que sonham, fazem descobertas e até cometem os mesmos erros que os humanos. Há também lindos contos de fadas e espero trazer todos aqui para o nosso espaço. Enquanto isso, fiquem com a dica de um inesquecível filme dos anos 80 – que eu amo demais!