Livro do dia: Roverandom

Livro do dia: Roverandom

Posted by Kátia

Aqui no Happy Sally gostamos de celebrar os dias mais inusitados e divertidos e hoje temos um bem interessante, o Dia de Ler Tolkien. A data foi criada em 2003 pela The Tolkien Society (acesse através dos Links Legais) com o intuito de divulgar a vida e a obra do mestre e incentivar sua leitura em escolas, museus e livrarias. O dia 25 de março não foi escolhido ao acaso: na saga O Senhor dos Aneis marca nada menos do que a ruína de Sauron e a queda de sua torre negra, Barad-dûr. Já falamos no blog sobre alguns livros de Tolkien, como As aventuras de Tom Bombadil, O Hobbit e Sr. Bliss. O encantador livro do dia foi escrito para suavizar a tristeza do filho do meio de Tolkien, Michael, que perdera seu amado cãozinho de brinquedo na praia. Na trama, Roverandom é um cão de verdade que é transformado em brinquedo por um mago invocado e vive grandes aventuras em lugares incríveis como a Lua e o fundo do mar. Vamos à história. 

Tudo começa com o cãozinho Rover enlouquecido com sua bola, o que o leva a cometer uma indelicadeza em relação ao mago Artaxerxes. Este, sem titubear o transforma num brinquedo: Rover tem seu tamanho reduzido, não consegue latir ou se movimentar durante o dia. Depois da meia-noite o feitiço dá uma trégua, e ainda que continue diminuto e com um latidinho ridículo, ao menos ele consegue andar e abanar a cauda. Assim, Rover vai parar numa loja de brinquedos e logo é vendido a uma senhora que tem três filhos. O presente é destinado ao filho número dois (Michael, com certeza!), que adora cachorros e cai de amores pelo novo brinquedo. Mas Rover não quer saber desta vida e consegue fugir do bolso do menino durante uma brincadeira na praia. Mal sabia ele que estava sozinho num local ermo, frequentado por criaturas esquisitas como sereias, tritões e até pequenos duendes do mar que cavalgavam cavalos-marinhos. O povo do mar era atraído à praia porque Psamatos Psamatides, o mais antigo feiticeiro-da-areia morava naquela enseada. Ele até parecia rabugento à primeira vista – e suas pontudas orelhas eram no mínimo excêntricas -, mas na verdade era um ótimo mago que ajudava a todos. 

E não é que Rover dá de cara com o mago?!!! Psamatos adorava dormir enterrado na areia (com as orelhonas de fora) e, ao se apresentar logo percebe que o cãozinho havia sido enfeitiçado por Artaxerxes. Para esfriar a tensão entre cão e mago, Psamatos envia Rover numa viagem extraordinária, de carona com Mew, a gaivota mais veloz do mundo. Destino: Lua. Uau!!! Tolkien é mesmo expert em descrever cenários de fantasia! Utilizando elementos da mitologia nórdica - da qual era voraz estudioso - e citando várias histórias clássicas infantis, ele nos transporta para uma realidade mágica onde cachoeiras caem por cima da borda do mundo e a Lua, dividida em lado branco e lado escuro apresenta uma vida selvagem extasiante. 

Ao chegar lá, Rover é levado a uma altíssima torre branca onde vivem o Homem-da-Lua, um mago com uma longa barba prateada e seu cãozinho alado Rover que adora perseguir raios de luar. É neste momento que Rover vira Roverandom (Rover significa explorador, aventureiro e Random, errante, ao acaso) porque “Roverandom, eu o chamo e Roverandom você terá de ser, não posso ter dois Rovers aqui”. Os cães tornam-se grandes amigos e vivem loucas emoções em suas explorações diárias.  Insetos gigantes os perseguem, bichos perigosíssimos com nomes como mariposa-dragão, mosca-espada, besouro de vidro e vespão-unicórnio, além das cinquenta e sete (!!!) variedades de aranhas prontas para comer qualquer coisa que se mexa. As plantas, por outro lado, produzem músicas delicadas. As campânulas de prata eram as mais belas de todas, com troncos negros altos como igrejas e copas de flores azuis que nunca caíam. Numa de suas jornadas, os amigos acabam enfurecendo o Grande Dragão Branco e precisam de uma mãozinha do Homem-da-Lua para escapar da fera. 

Entretanto chega o dia em que Roverandom e o Homem-da-Lua visitam o lado escuro da Lua e novos sentimentos afloram daí. Pois é lá que fica o jardim dos sonhos, local para o qual todas as crianças que sonham são transportadas. Roverandom reencontra o seu menino e eles conversam na língua dos cães. O cachorrinho conta toda a sua história e juntos eles brincam de esconde-esconde, nadam no lago e fazem uma longa caminhada. O menino dá uma gostosa risada no momento em que desaparece: isso significa que ele acabara de acordar na Terra. Roverandom mal descobrira o amor e já fora apartado dele. Então toma uma decisão: precisa voltar para casa. Mas, antes de reunir-se com o menino, ele terá que mergulhar no Mar Azul Profundo atrás do único que poderá desencantá-lo, o mago Artaxerxes! Sutil, divertido, aquele tipo de livro que leva sua imaginação para o infinito e além. Aproveitem cada segundo antes que Artaxerxes desfaça o feitiço- e depois releiam de novo e de novo porque vale muuuuito a pena). 

Roverandom
Autor/ilustrador: J.R.R. Tolkien
Editora: WMF
Temas: Fantasia; Aventura
Faixa etária: 07-11

Leia também: Como grande entusiasta da mitologia nórdica, Tolkien compôs sua própria versão para a trama do Anel dos Nibelungos em A lenda de Sigurd & Gudrún (Editora Martins). Aqui é contada a trágica saga do herói Sigurd, o matador de dragões destinado a auxiliar os deuses no Ragnarök. Belo, ainda que demasiadamente dramático. Boa pedida para jovens sedentos de sagas épicas.
 
Roverandom por Ruth Meharg
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