Livro do dia: O inventor de jogos

Livro do dia: O inventor de jogos

Posted by Kátia

O autor argentino Pablo de Santis escreveu um dos livros da minha vida, Os antiquários, mas até então eu desconhecia essa pequena joia da literatura que é O inventor de jogos. A recomendação não poderia ter vindo de fonte mais inspiradora: Enriqueta, a adorada menina bibliófila da série Macanudo, do também argentino - e genial! - Liniers. Quando eu li essa tirinha que ilustra o post fiquei encantada, eu precisava conhecer o livro! E o mais perfeito de tudo é que a história é uma declaração de amor aos jogos de tabuleiro, uma das minhas paixões mais antigas. Sabe quando você tem aquela sensação incrível de que o livro foi escrito para você? Pois é, foi exatamente assim que me senti durante a leitura e espero que o mesmo aconteça contigo. 

Delicioso e envolvente do início ao fim, o livro do dia conta a história de Ivan Dragó, um menino um tanto medroso que vai comemorar o aniversário de 07 anos num parque de diversões. Ele não quer saber de se aventurar em nenhum brinquedo, mas seu pai ao menos lhe convence a praticar o tiro-ao-alvo. É claro que ele não acerta nada, mas como “prêmio de consolação” ganha uma revista em quadrinhos que mudaria sua vida. Ali ele encontra o cupom de um concurso que premiaria o inventor do melhor jogo de tabuleiro. O que deixa o menino mais instigado ainda é o fato de o prêmio ser supersecreto. 

Ivan passa os próximos dias trabalhando na criação de seu jogo, e digamos que talento ele tem no sangue: seu avô era ninguém menos do que Nicolás Dragó, uma antiga celebridade de Zyl, a Cidade dos Jogos. A cidade agora estava decadente, mas o avô – inventor de jogos famosos como A corrida do fim do mundo e A catedral de cristal – continuava na atividade, elaborando intrincados quebra-cabeças de madeira que vendia por uma pequena fortuna. Enfim, o menino termina seu projeto e o envia à misteriosa Companhia dos Jogos Profundos, sediada no Transatlântico Napoleão (!). Depois de duas semanas ele recebe uma resposta meio vaga, e um brinde que mais parecia uma daquelas tatuagens que vem no chiclete. Só de brincadeira ele aplica a tatuagem – uma peça de quebra-cabeça com a silhueta de uma casa em seu interior – na palma da mão direita e, surpresa!, a tatuagem mostra-se tão permanente quanto uma de verdade. 

Cinco anos se passam e Ivan continua pensando no concurso. Mas isso logo vai dar lugar a um drama muito mais profundo: seus pais, balonistas profissionais, desaparecem durante uma prova e ele tem que morar com a tia Elena, ultradisciplinadora e adepta do tédio. Para piorar tudo ela matricula o menino no tradicionalíssimo Colégio Possum, onde a imaginação e as brincadeiras não têm lugar. Um colégio que mais parece uma locação de filme de terror, com o prédio principal afundado na terra por conta do “saber acumulado”. Ok, essa é a desculpa que o diretor dá, mas logo Ivan começa uma investigação na biblioteca submersa da escola, com a ajuda da menina invisível Anunciação. Como assim, invisível? É que Ivan era tão bom na invenção de jogos que criou o jogo do homem invisível para levantar o ânimo da criançada. E Anunciação foi tão bem sucedida no jogo que mesmo depois do fim ela continuou invisível. Surreal!!!

Depois de muitas aventuras envolvendo um aparelho mágico de televisão em preto-e-branco que só transmite o programa de telecatch Luta sem fim (adoro lucha libre!!!) e uma caça ao tesouro que quase termina em tragédia, Ivan é finalmente enviado para Zyl, a fim de morar com seu avô Nicolás. E é lá que ele descobre a identidade do arqui-inimigo da cidade (e de sua família também), Morodian. Este fora um dos discípulos mais talentosos de Nicolás, mas deixara Zyl após perder o campeonato de jogos e a amaldiçoara com o esquecimento. E o que ele roubou antes de fugir? Uma peça do gigantesco quebra-cabeça que representa a cidade, a peça de sua casa. Exatamente a mesma peça que virou tatuagem permanente na palma da mão de Ivan. Sim, a mente por trás da Companhia dos Jogos Profundos era Morodian. Uma mente maligna, por sinal. 

Ivan terá que avançar muitas casas no jogo da vida antes do duelo final com Morodian, mas vou terminar falando um pouco mais sobre a cidade de Zyl que é um deleite para quem ama os jogos de tabuleiro. Primeiro, os adornos que encantam por si só: bancos que imitam dados, peças de xadrez gigantes, um labirinto, o Cérebro Mágico (um jogo de perguntas e respostas que era quase como um oráculo da cidade). Depois vem a escola com suas disciplinas incríveis como criptografia, filosofia do jogo, estratégia e história dos jogos. Demais! Eu adoraria ter estudado no Colégio de Zyl! O único problema é que você vai ficar doido de vontade de jogar todos aqueles jogos fictícios do livro, mas tudo bem, você pode dar vida a esses jogos, criar outros ou se valer da infinidade que temos à nossa disposição (dá uma olhada na dica logo abaixo). Um bom livro e um bom jogo de tabuleiro, pedidas perfeitas para esse inverno que já se instalou de vez. Boas aventuras para vocês! 

O inventor de jogos
Autor: Pablo de Santis
Editora: Girafinha
Temas: Aventura; Fantasia; Universo infantil
Faixa etária: A partir de 11 anos 
 
Jogue também: Eu já disse que sou fanática por jogos de tabuleiro, especialmente porque eles me trazem ótimas recordações da minha família e da minha infância. Mas confesso que fiquei ainda mais “metida” agora que descobri que o dia de meu aniversário (11 de abril) também é o International TableTop Day ou Dia Internacional dos Jogos de Mesa/Tabuleiro. Coisas do destino, hahaha. Enfim, um dos jogos que mais tenho jogado recentemente é o maravilhoso, fabuloso Dixit (Galápagos) onde você vira um contador de histórias e precisa criar um título ou pequeno enredo a partir de uma carta que contém uma ilustração FE-NO-ME-NAL. Extremamente viciante.

Bruxaka ama Enriqueta ♥
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