Ah, que dia lindo e inspirador que está nascendo, o Dia Internacional da Música, que me incentiva a falar sobre um autor que desperta muitas paixões em mim. Hoje lhes apresento a Kenji Miyazawa, um homem que amava as artes em todas as suas formas e que, acima de tudo, estava em pura sintonia com a natureza e com os astros que guiavam suas emoções. De personalidade doce e introspectiva, Miyazawa ainda hoje é um dos escritores mais queridos do Japão. 

Miyazawa (1896-1933) estudou Agronomia e como professor da Escola Agrícola jamais limitou-se às quatro paredes de sua sala de aula. Considerado excêntrico, colocava as crianças em contato físico com a natureza, pois acreditava que a vivência, e somente ela, permitiria que enxergassem as coisas como realmente eram. Uma pedra não era somente uma pedra, somente uma pessoa sem nenhuma criatividade não enxergaria um milhão de possibilidades ali. Seus textos revelam o apreço pela solidão e o fascínio tanto pelas formas de vida quanto pelos mistérios que as envolvem. 

Eu tive a honra de ler o seu Viagem Noturna no Trem da Via Láctea - que espero trazer também para este nosso espaço – e desde então virei uma admiradora de seus escritos e também de sua personalidade enigmática. O violoncelista conta a história de Goshu, um músico que trabalha na orquestra de cinema mudo (quem já teve a oportunidade de assistir a um filme acompanhado de orquestra certamente levará a experiência para a vida toda, é extraordinário!) e que está ensaiando para uma apresentação num evento importante de sua cidade. Mas, por mais que ele tente, não consegue se concentrar. Pior ainda: não acerta suas notas, não se entrosa com os companheiros da orquestra. Goshu sente-se perdido. 

O maestro o reprende o tempo todo, diz que ele não consegue se expressar, sentir tristeza, raiva, absolutamente nada. Sentindo-se derrotado, Goshu derrama suas lágrimas no final do ensaio. Mas não desiste nunca. Continua ensaiando sozinho e mais tarde, já em casa, volta a treinar. Ele adentra a madrugada com sua música, tentando descobrir o que está errado e o que lhe falta. Em muitos momentos, ele nem sabe mais o que está tocando. Mas nessas horas de desespero, Goshu receberá companhias inusitadas, que à primeira vista não entendem nada de música. Mas de uma coisa elas entendem bem: sentimento. Bom, eu sei bem o que sinto em relação ao trabalho de Miyazawa, puro amor. Espero que você descubra bons sentimentos por aí também :D