Livro do dia: Os sonhos contados às crianças curiosas

Livro do dia: Os sonhos contados às crianças curiosas

Posted by Kátia

O enigmático universo dos sonhos, que tanto instiga cientistas e artistas, é o tema do livro do dia. Através de relatos de pesquisadores e sábios das mais diversas procedências, fazemos uma viagem que passa pelas fases do sono e a imagem onírica do sonhar; os sonhos premonitórios e as mensagens dos deuses; os sonhos na psicanálise de Freud e muito mais. Em português, “sonho” vem do latim somnium, que se refere tanto à ação de sonhar quanto a de dormir. Já “pesadelo” vem de “pesado” (no sentido de “desagradável, difícil de suportar”), do latim pendere, “pesar, pender”. 

No incío do sono, o chamado “sono lento”, podemos até sonhar, mas no geral são sonhos simples dos quais raramente nos recordamos. Depois vem o “sono paradoxal”, onde nosso cérebro está em plena atividade ao passo que nossos músculos estão relaxados e o corpo em descanso profundo. Os sonhos ocorrem então com maior frequência, podendo ser visuais e/ou auditivos. O lado direito do cérebro, que reconhece os rostos, e o lado esquerdo, que compreende as palavras (para os canhotos é o inverso) são ligados por um corpo caloso que fica pouco ativo durante os sonhos. Esse é um dos motivos pelos quais os sonhos às vezes parecem tão estranhos! Já aconteceu de você ouvir claramente uma pessoa no sonho, mas não conseguir enxergar sua face? Ou foi o contrário?

A ciência explica os sonhos como um acúmulo das experiências vivenciadas ao longo do dia. Mas sabemos que eles são muito mais do que isso: os sonhos são mágicos. Seja nas sociedades tribais ou no mundo civilizado há a crença no poder dos sonhos como mensagem divina ou como uma forma de prever o futuro. Na Grécia Antiga e na Bíblia fala-se desses intérpretes de sonhos, como, por exemplo, José do Egito que ao ver sete vacas gordas serem devoradas previu sete anos de abundância seguidos de sete anos de fome. Os kalash, do Paquistão, são praticantes do xamanismo que podem ser visitados em sonhos por espíritos maus, os bhut, proclamadores do perigo. Já nas sociedades siberianas acredita-se que a alma pode se separar do corpo durante o sono e o futuro xamã se encontra com sua divindade, aprendendo a tratar de doenças. Os warlpiri, nativos da Austrália, creem que os sonhos os levam de volta ao tempo dos antigos, onde recordam-se de danças e cantos que pertenceram à memória da tribo. Uma vez acordados esses aborígenes transmitem aos seus o que aprenderam em sonho. E por aí vai... 

Por outro lado, a filosofia e a psicologia fazem outro tipo de leitura sobre os sonhos. O filósofo francês René Descartes, no século XVII, dizia que às vezes imaginamos ou desejamos coisas com tanta intensidade que acreditamos vê-las nos sonhos. Sigmund Freud, que no final do século XIX inventou a psicanálise, acreditava que os sonhos nascem de uma parte de nós mesmos que pouco conhecemos, o inconsciente. Não temos acesso a ele porque nos censuramos, mas quando sonhamos essa barreira perde força. A análise dos sonhos seria uma forma de reconhecer nossos medos e ter uma melhor qualidade de vida. Mas e os artistas, o que pensam dos sonhos? Muitos deles praticamente vivem dentro dos sonhos!!! Por isso temos Alice no País das Maravilhas e o Sono de Salvador Dalí. O Mágico de Oz e os quadros do muso Marc Chagall. O Pesadelo, de Johann Heinrich Füssli e os contos das Mil e Uma Noites. Os Sonhos de Akira Kurosawa e o Sonho de uma Noite de Verão de William Shakespeare. Mary Poppins e as animações de Hayao Miyazaki. O maravilhoso Breve Romance de Sonho, de Arthur Schnitzler, e o Sandman de Neil Gaiman. Uau!!! Desde que os sonhos continuem inspirando os artistas, posso dormir aliviada. E sonhar com toda essa beleza que eles legaram – e continuarão legando - ao mundo Smile

Os sonhos contados às crianças curiosas
Autora: Sylvie Baussier
Ilustrador: Ilya Green
Editora: Martins
Temas: Arte; Livros
Faixa etária: A partir de 10 anos 
 
Assista também: Como se fosse uma sequência de sonho, o magnífico curta-metragem Destino (1945-2003) foi concebido pelas mentes geniais de Salvador Dalí e Walt Disney, lá em 1945. Infelizmente o projeto permaneceu inacabado por quase 60 anos, até que o neto de Disney, Roy, encontrou o material e decidiu finalizar a obra. Com trilha sonora que te faz flutuar pelos ares e os cenários malucos dos quadros de Dalí, esses seis belos minutos bem que poderão povoar os seus sonhos por muuuito tempo.

"O homem é genial quando sonha" [Akira Kurosawa/Arte de Ilya Green]
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