Livro do dia: Direitos iguais, Rituais iguais

Livro do dia: Direitos iguais, Rituais iguais

Posted by Kátia

Há tempos desejo falar aqui sobre o adorável e engraçadíssimo escritor Terry Pratchett, mas a dúvida sempre bateu forte: como escolher apenas um livro de uma coleção imensa, que conta com quase quarenta volumes? Enfim, para facilitar as coisas, optei pelo mais recente que li, porque eu precisava desesperadamente compartilhar com vocês as histórias do Mundo do Disco, o Discworld. Terry Pratchett criou um universo à parte, que é um deleite para fãs de rpg e fantasia em geral. E o melhor de tudo: suas tramas fantásticas são recheadas de humor, com tiradas sarcásticas que fazem rir até a barriga doer. Eu sou simplesmente apaixonada por este mundo e todas as suas particularidades.

Para vocês terem uma ideia da maluquice de Pratchett, o Mundo do Disco consiste numa tartaruga celestial de dezesseis mil quilômetros de comprimento, Grande A’Tuin. Ela traz na sua carapaça quatro elefantes, que por sua vez sustentam o próprio Discworld (são várias as referências à mitogia, como a hindu e a budista, por exemplo). O legal da série é que os volumes podem ser lidos separadamente – na maioria das vezes - porque contam histórias de personagens diversos, em regiões distintas e nem sempre suas tramas têm relações umas com as outras. Aqui no Brasil a série foi lançada pela Conrad, com doze títulos publicados (infelizmente, a maioria deles está fora de catálogo).

Direitos iguais, Rituais iguais conta a história da pequena Eskarina, ou apenas Esk, que é a oitava filha de um oitavo filho – no Mundo do Disco isso significa mago na certa! O único inconveniente é que não existem magos do sexo feminino. Cientes do problemão que enfrentariam, o pai de Esk, Gordo Smith, e a parteira, uma bruxa conhecida como Vovó Cera do Tempo escondem esse fato de todos, inclusive o bastão que ela herdara do poderoso mago Drum Billet. Esk cresce como uma garota normal, ou quase isso, porque a magia sempre se manifesta em sua presença. Depois que o bastão dá cabo de uma matilha de lobos que tenta atacar Esk, Vovó desiste de escondê-la do mundo da magia e começa a treiná-la como bruxa (a magia dita natural era a única permitida a mulheres).

A sequência do treinamento de Esk com Vovó Cera do Tempo é uma dos trechos mais divertidos do livro. A princípio relutante em ensinar os feitiços propriamente ditos, Vovó insiste na “cabeçologia”, que seria a arte da sugestão. Para que uma poção, feitiço ou maldição dê certo, é preciso que a mente da pessoa a qual se destina acredite em sua potência. “Se damos a alguém uma garrafa de gulatina vermelha para curar os gases, pode ser que funcione. Diga a ela que são raios de luar engarrafados com vidro encantado ou algo do tipo. Resmungue umas palavras. [...] Fale alto, complicado, comprido, e até inventado, que funciona.” Mas os poderes de Esk estão além da compreensão da bruxa e ela finalmente conta-lhe a verdade. As duas partem então em busca da Universidade Invísivel, um instituto de educação para magos que fica em algum lugar de Ankh-Morpork. Apesar da pouca probabilidade de ser aceita entre os magos, a voluntariosa Esk não hesitará em mostrar seus poderes e reivindicar o seu lugar de direito. Delicioso do começo ao fim, com necessárias pausas para se recuperar da falta de ar provocada pelo excesso de risadas. Terry Pratchett é o cara!

Direitos iguais, Rituais iguais
Autor: Terry Pratchett
Editora: Conrad
Temas: Fantasia; Humor
Faixa etária: A partir de 12 anos

Leia também: No dia totalmente dedicado a Pratchett - e às meninas super poderosas, fiquem com Os Pequenos Homens Livres (Ed. Conrad, volume mais fácil de encontrar) que conta a história de Tiffany Dolorosa, a única capaz de impedir a senhora do Reino das Fadas de eliminar a barreira que separa realidade e sonhos. A malvada deseja que os monstros e vilões das histórias da carochinha invadam o Disco, então Tiffany tem que aprender a usar os seus poderes e salvar o mundo. Vai lá, Tiffany, arrasa, confiamos em você!

Formatura de bruxa: uma pequenina recebe o tão aguardado chapéu pontudo [Ilustração Colin Stimpson]
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