Ah, como eu fui uma criança feliz...passei a infância inteira ao lado de grandes damas da literatura como Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Tatiana Belinky e...Eva Furnari! A Bruxinha Atrapalhada foi minha companheira inseparável, mesmo antes de conhecer todas as letras ou compreender certas situações, eu carregava o livro comigo e pintava, e desenhava e virava uma bruxa também. Por isso é um grande prazer e uma grande honra falar sobre as obras de Eva Furnari. O livro do dia é Nós, sobre a sensível garota Mel. 

Ela vivia na cidade de Pamonhas, no tempo em que as pessoas nasciam em repolhos e as bicicletas voavam. Mel era especial, pois onde quer que fosse, estava sempre rodeada de borboletas. Mas as pessoas da cidade achavam aquilo engraçado e caçoavam dela. Todo dia era a mesma coisa: risinhos, provocações, choro. Num dia qualquer, Mel sentiu algo diferente, um forte repuxo no pé. Em casa, ela descobriu que tinha um nó no seu dedo mindinho. Que estranho! Dias depois, aconteceu de novo. Mel segurou o choro e apareceu um nó no dedo da mão. E mais outro na perna, e outro no pescoço (que mais parecia nó na garganta). Mas o pior de todos foi o nó no nariz. Inconformada, Mel foge da cidade disfarçada de geladeira. 

Depois de uma longa caminhada, acaba chegando ao topo de uma montanha. Contempla as árvores, flores, estrelas e a lua que, além das borboletas, são as suas únicas companheiras. Mas a garota sentia falta de alguém para conversar. Tentou chamar a atenção de uma vaca que passava por ali, mas o bicho não gostou nada dela e a perseguiu, até o rio. Mel mergulhou e nadou, nadou, nadou. Do outro lado da margem, uma surpresa: um menino! 

Temendo ser rejeitada, Mel sai correndo e pega a bicicleta do menino, que voa. Mas os dois acabam estatelados no chão e o garoto percebe as borboletas. Encantado, faz um elogio. Desconcertada, Mel sente um novo nó surgindo, mas finalmente consegue colocar o choro para fora. Chora até soluçar. E descobre a maneira de desatar os seus nós: aliviando o coração. Com o menino Kiko, Mel viaja até a cidade de Merengues, onde cada um tem um tipo de nó diferente e ninguém se importa com as suas borboletas. Eu acredito que lá ela viveu feliz para sempre.