Livro do dia: Malala, a menina que queria ir para a escola

Livro do dia: Malala, a menina que queria ir para a escola

Posted by Kátia

Começamos a semana com a história de uma menina pra lá de inspiradora, Malala Yousafzai. Impedida de estudar pelos talibãs, ela lutou, relatou ao mundo seus horrores e quase foi silenciada por conta disso. Mas a pequena grande garota sobreviveu, não apenas para se tornar a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, mas também para se transformar num exemplo de ser humano de fé e resiliência. A surpreendente trajetória de Malala é contada pela jornalista Adriana Carranca, que teve a missão de viajar até o vale do Swat, no Paquistão, e descobrir o que realmente acontecera com ela.

Malala nasceu e cresceu entre os corredores da Escola Kushal, fundada por seu pai, o professor Ziauddin. Os dois sempre foram muito unidos e Ziauddin deu a ela os mesmos direitos de seus filhos do sexo masculino. Na sociedade pashtun, as meninas são criadas para se casar muito jovens e raramente compartilham seus pensamentos e sonhos, porque na verdade não têm escolha. Não foi o que aconteceu com Malala. Desde cedo acompanhou o pai em protestos, reuniões e eventos públicos e na escola era a mais aplicada, inteligente e falante. Organizava gincanas e competições entre as alunas, colecionava troféus, participava de todos os tipos de atividade – esportivas e intelectuais e, ao lado das amigas de colégio, criou a Assembleia de Direitos da Criança. Ali as meninas discutiam os problemas do vale, o que acabou chamando a atenção das autoridades locais. Dentre tantas matérias favoritas, amava mesmo a poesia. Essa paixão pelos livros veio desde o berço e uma de suas leituras favoritas sempre foi Harry Potter (e quem não ama???). Durante a guerra que se seguiu, o bruxinho tinha o poder de transportar Malala e as amigas para lugares muito mais divertidos e protegidos.

Em 2007, pouco antes de Malala completar 10 anos, os talibãs desceram as montanhas e chegaram ao vale do Swat. O curioso é que “talibã” significa estudante. Como assim, se eles queriam que as crianças parassem de estudar? Esses homens circulavam mascarados na traseira de picapes, aterrorizando as pessoas com fuzis Kalashnikov em punho. Eles destruíram computadores, câmeras fotográficas, aparelhos de tv, vídeo, etc, tentando varrer todo vestígio da cultura ocidental. Música era proibida: o vale ficou mudo. As mulheres foram banidas da vida social e as meninas proibidas de ir à escola. Mas Ziauddin estava decidido a não deixar sua escola fechar. Malala faz então seu primeiro discurso: “Como o talibã se atreve a tirar meu direito à educação”? E logo começa um blog onde descreve as atrocidades cometidas em sua terra natal. A garota chega a ir para a escola disfarçada, sem uniforme, mas os talibãs ameaçam explodir a instituição e a Escola Kushal finalmente sucumbe. Entre sons de disparos e notícias de acordos de paz, a família passa os próximos anos longe de casa.

Enfim, o exército paquistanês consegue expulsar os talibãs e Malala pode voltar para casa e para sua amada escola. É preciso coragem e perseverança para reconstruir a Escola Kushal, usada como base pelos talibãs e reduzida a cacos. Enquanto isso as crianças passam a estudar em tendas, no meio das árvores e dos escombros, usando tijolos como cadeiras. Malala aparece em um documentário do New York Times e ganha prêmios por seu ativismo. Os talibãs sentem-se desafiados. Então, no dia 9 de outubro de 2012, o ônibus escolar de Malala é interceptado e a brava garota é alvejada na cabeça. Suas colegas de classe Kainat e Shazia também são atingidas. Uma das coisas mais interessantes do livro é que todas essas meninas ganham rostos e vozes, com a reprodução de conversas que Adriana teve com elas. Há também um ótimo glossário que nos aproxima de aspectos da cultura de Malala. É quase como estar ali, bem do ladinho dela, segurando sua mão.

Como todo mundo sabe, Malala não só se recuperou como se tornou nossa heroína e ainda ajudou outros milhões de meninas e meninos a entrar para a escola. E isso sem nem ao menos ter completado 18 anos! Cinco meses e dez dias depois do tiro, já morando com a família em Birmingham, na Inglaterra, Malala voltava à escola: “Eu realizei um sonho. Penso que é o momento mais feliz da minha vida porque estou voltando para a escola. Hoje eu tenho meus livros, minha mochila e vou aprender... Eu quero aprender sobre politica, sobre direitos sociais e sobre a lei. Eu quero aprender sobre como eu posso mudar o mundo”. Você já mudou, Malala, você já mudou.

Malala, a menina que queria ir para a escola
Autora: Adriana Carranca
Ilustradora: Bruna Assis Brasil
Editora: Companhia das Letrinhas
Temas: Coragem; Tolerância; Superação
Faixa etária: A partir de 10 anos 

Leia também: Um outro país para Azzi (Pulo do Gato) conta, através da linguagem dos quadrinhos, a história de uma garota que também via a guerra se aproximando, mas continuava a levar a vida de sempre ao lado dos pais e da avó. Mas numa noite terrível eles precisam deixar tudo para trás e a pequena sofrerá bastante para se adaptar à nova realidade. Emocionante.

"Minha força não está na espada. Está na caneta."
malala.jpg