Parece fácil dizer, mas um dia você tem que aceitar a perda, enxugar as lágrimas, andar de mãos dadas com a saudade, sim, mas nunca permitindo que ela te aperte demais ou que o impeça de caminhar. É claro que você nunca estará totalmente preparado para a perda, mas a aceitação é importante, assim como seguir adiante. Sofri uma grande perda logo no primeiro dia do ano, algo nem tão inesperado assim, mas confesso que fui um pouquinho egoísta, imaginando que conseguiria reter não somente as lembranças, mas a presença física daquela pessoa insubstituível que precisava partir. Minha vovó querida se foi, mas ficou a lenda de uma mulher forte, de personalidade destemida, obstinada, perfeccionista, que me inspirou em vários aspectos da vida. Obrigada, nonna Rosa, por todo o talento compartilhado, por todos os sabores maravilhosos da minha infância, por todas as cores, flores e sabores. Te amo para sempre! 

E foi justamente por isso que escolhi esse livro um tanto sombrio de Colin Thompson, que fala sobre a impossibilidade de moldar o seu destino a bel prazer e também as consequências gravíssimas que a imortalidade pode trazer. O introspectivo garoto Pedro, de dez anos, vive com a mãe e o avô num museu, que ele considera seu lar e abrigo protetor contra todos os males do mundo. Ele ama imensamente o seu avô (que parece um mago de livro infantil ♥), mas não tarda em descobrir que o idoso senhor tem uma doença incurável no coração e que provavelmente não sobreviverá a ela. Seu pai desaparecera misteriosamente em algum ponto obscuro do museu pouco antes de seu nascimento e Pedro imagina que foi isso que abriu um buraco no coração do avô. Logo, se ele encontrasse o pai, o avô poderia viver para sempre! Pelo menos é esse o pensamento do inocente garoto, que parte ao lado do inteligentíssimo gato Arquimedes em busca de respostas. 

Através de sinuosos corredores, Pedro chega até uma estranha senhora, velhíssima, com a aparência de uma múmia e uma voz quebradiça como papel amassado. Betina, a velha, entrega-lhe o misterioso livro chamado Como viver para sempre, com a missão de levá-lo até o Menino Velho, que poderia resolver todos os seus problemas. Há uma recomendação expressa, entretanto, que Pedro deve seguir à risca: ele jamais, em hipótese alguma poderia ler o livro, pois senão viveria para sempre em seu corpo de dez anos, privado de seus familiares, uma triste existência na qual não haveria sono ou comida, amor ou esperança. Para obter sua promessa, Betina mostra a Pedro o “resultado” da imortalidade, e ele fica tão chocado que se lança em disparada para uma porta mágica. No mundo onde seu pai vivia, ele  encontraria também o Menino Velho, o único que poderia reverter aquela maldição da vida eterna. 

Entre um susto e um pesadelo, Pedro vai parar na biblioteca do museu, ou uma versão dela no mundo de lá. No lugar do piso de aço, havia grama orvalhada. A névoa cobria um lago no ponto em que deveriam estar as fileiras de mesas envernizadas. O lago parecia infinito, e as nove galerias de livros haviam se transformado em livros gigantes, como casas, habitadas por todo o tipo de pessoas atarefadas. No meio de todo esse deslumbramento, Pedro conhece Festa, uma menina da sua idade que seria a sua guia (ou “zeladora”) durante a jornada. Mas não são somente maravilhas que os aguardam por lá e Pedro sentirá na própria pele as dores, dificuldades e responsabilidades que vêm com o amadurecimento. Um livro ao mesmo tempo assustadoramente sincero e deliciosamente fantástico. Colin Thompson surpreende uma vez mais, elevando o seu prezado tema “perda” a um nível épico. Triste e lindo.