Livro do dia: A história de Biruta

Livro do dia: A história de Biruta

Posted by Kátia

Hoje é o Dia Nacional das Artes e vamos comemorar falando sobre um artista que soube preservar com dignidade um pedaço importante da nossa história - e de quebra indicamos alguns museus bem interessantes. O livro do dia conta um pouquinho da história do Brasil sob o ponto de vista do francês Jean-Baptiste Debret, cuja obra - integrada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN - pode ser apreciada no Museu Chácara do Céu, no Rio de Janeiro. São 561 aquarelas, desenhos e gravuras que constituem a maior coleção de Debret no mundo. Uau! 

Debret chegou ao Brasil em 1816, vindo de uma França revolucionária e aqui se deparou com uma população de cerca de 80 mil pessoas, das quais metade era escrava. Seu olhar interessado capturou o dia-a-dia desses escravos e também dos senhores, através de desenhos e aquarelas ricos em detalhes. Em suas andanças pelo Rio de Janeiro, Debret retratou cenas corriqueiras, paisagens e inclusive visitou muitas casas, de pessoas pobres e ricas. Um fato curioso é que aparece um cachorro em diversos de seus quadros, como que a espiar a movimentação da cidade. Pois esse cachorrinho ganhou o nome de Biruta e virou o protagonista da nossa história. 

Ele passeia pelos quadros de Debret e nos conta as suas impressões sobre o período. Apaixonado pelas frutas brasileiras, o que ele mais curte fazer em suas incursões é enfiar o focinho no meio das cestas, tabuleiros e balaios. Aliás, é por isso que ele ganhou o nome de “Biruta”: um cachorro maluquinho pelos aromas e sabores de nossa terra. Debret retratou com fidelidade impressionante esses tesouros do Brasil. O maracujá, o caju, o cajá, o jambo e o araçá do campo. Hummm, dá vontade de provar tudo só de olhar as pinturas de Debret! E a aquarela do café torradinho, então? 

Mas nem tudos são flores nos caminhos do cachorro Biruta e ele acaba discorrendo sobre a pobreza e a escravidão. Biruta observa os escravos que serravam grossas tábuas do nascer ao pôr-do-sol. E que também faziam a pavimentação das ruas e os telhados das casas: 

“Mas Biruta não achou
graça nenhuma naquilo.
Para ele o mundo
continuava dividido:
havia quem mandava
havia quem servia.
Havia quem mandava
E pobre de quem não cumpria.” 
 

Decidido a fazer alguma coisa grande e desconhecida, como lutar numa revolução, Biruta se despede do Rio de Janeiro e vai de encontro ao seu destino. Ah, no final há um guia com as obras mostradas no livro, obras essas que foram organizadas por Debret e reproduzidas em litografias num trabalho minucioso que durou cerca de oito anos. De volta à Paris, Debret ainda redigiu os textos do livro que se tornaria o clássico Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, lançado em três volumes, entre 1834 e 1839. Um trabalho de gigante, um trecho da nossa história eternizada com a mais pura sensibilidade. Bravo. 

A história de Biruta
Autor: Alberto Martins
Ilustrador: reprodução das obras de Jean-Baptiste Debret
Editora: Companhia das Letrinhas
Temas: Arte; Poesia
Faixa etária: A partir de 07 anos 
 
Visite também: Para quem ainda não conhece, a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre (RS), realiza mostras permanentes e itinerantes do vasto acervo do célebre gaúcho, sem dúvida um dos artistas mais importantes do Brasil. A exposição atual, Iberê e seu ateliê: as coisas, as pessoas e os lugares reúne 136 trabalhos entre pinturas, desenhos e gravuras. O museu também recebe a exposição do pioneiro em arte cinética Abraham Palatinik: A reinvenção da pintura. São 78 pinturas, esculturas, móveis, objetos e estudos – muitos deles utilizando instalações elétricas – produzidos entre os anos de 1940 e 2000. Até o dia 25/10. Imperdível.

Debret e a primeira imagem conhecida da cidade de Curitiba, 1827
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