Mais difícil do que entrar na vida adulta, é ser forçado a isso através de um fato traumático. David, de doze anos, perde a sua adorada mãe e, quase ao mesmo tempo, tem que conviver com a nova esposa do pai, a improvável “substituta”, e com um novo – e indesejado - irmãozinho. Isso é para deixar qualquer um surtado. Mas David tem um aliado, ou muitos, na realidade: os livros. Ele compartilhara esse amor pelos livros com a mãe, que costumava dizer que as histórias eram vivas, ou seja, tornavam-se vivas quando eram contadas. Ficavam adormecidas, aguardando uma oportunidade para despertar, elas queriam ser lidas. Entre os preferidos de David e sua mãe estavam os contos de fadas e as histórias folclóricas, contos de cavaleiros, soldados, dragões e monstros marinhos. 

Após o nascimento do irmãozinho, David e o pai mudam-se para a casa da madrasta Rose, que escolhe um quarto repleto de estantes e livros para o menino. Logo de início David fica intrigadíssimo com o seu novo lar, principalmente com o seu quarto e os novos livros, inquietos, murmurantes, cheios de personalidade e pensamentos. Livros incríveis são encontrados a cada instante, contos de fadas um tanto diferentes do que o menino conhecia, contos mais sombrios, com finais trágicos. Alguns destes livros tem anotações escritas a mão e ilustrações assustadoras e David fica louco de curiosidade para descobrir a quem pertenceu tudo aquilo. 

David, que sofria ataques desde a perda da mãe (pelo menos o psiquiatra credita os estranhos desmaios do menino ao trauma recente), piora com o passar do tempo e os seus sonhos bizarros começam a invadir a vida real. David sonha com um Homem Torto e com um mundo fantástico além do seu e um certo dia jura ver o tal homem em seu quarto. As relações com a madrasta também pioram e David passa os dias lendo, de preferência no jardim rebaixado, próximo às florestas que se estendem pela paisagem. 

Num acesso de raiva, após uma briga particularmente violenta com a madrasta, David, super sensível, tem uma visão com a mãe. Desesperada, ela garante estar viva e implora por salvação. Sem pensar duas vezes, o garoto dirige-se ao jardim rebaixado, que seria a passagem entre os dois mundos. O que ele vê do lado de lá eu não ouso contar, mas já aviso: só leia o livro se você realmente curte histórias aterrorizantes, eu fiquei gelada do início ao fim da narrativa. Com ecos dos contos de fadas dos quais nos sentimos tão próximos, o livro tem inventividade e horror na mesma medida. Depois não digam que eu não avisei!