Livro do dia: Contradança

Livro do dia: Contradança

Posted by Kátia

Não sei se já falei o suficiente sobre o meu amor pelo artista e dramaturgo brasiliense Roger Mello – o qual, aliás, tive o prazer de conhecer pessoalmente e que é uma pessoa tão doce quanto talentosa. O primeiro livro dele caiu em minhas mãos por acaso e tornou-se um de meus favoritos de todos os tempos. Aliás, A Flor do Lado de Lá (leia mais aqui), mais Todo Cuidado é Pouco! e Meninos do Mangue figuraram na lista de “livros que toda criança deve ler antes de virar adulto”, publicada pela Folha de São Paulo, em 2007. Eu diria ainda mais: TODOS os seus livros devem ser apreciados por crianças dos 0 aos 100 anos. Mello já ilustrou mais de cem livros, recebeu nove vezes o prêmio Jabuti e, em 2010, foi um dos cinco finalistas do Hans Christian Andersen. 

Como se isso tudo não bastasse, ele ainda realiza truques de mágica. Deixe-me explicar. A cada nova obra, um espetáculo visual totalmente diferente dos anteriores surge diante de nossos olhos. Roger Mello passeia tranquilamente por estilos de arte e narrativa diversos, como o livro-imagem, o livro-brinquedo, o desenho colorido, preto-e-branco, fotografia, recortes, colagens, esculturas, origami, etc e tal. Em Contradança (2011), as surpresas começam logo na capa: o fundo verde contrasta com as molduras negras e espelhos “quase” de verdade. O papel espelhado reflete a imagem da criançada e é certo que eles ficarão enlouquecidos com o livro. 

A história segue os passos de dança de uma pequena bailarina. Sozinha em casa, ela logo começa uma conversa imaginária com um macaco que perdeu o seu reflexo. Quer dizer, na verdade ele é um reflexo que perdeu o seu macaco. Ao virar as páginas, o verde torna-se negro profundo, que passa ao cinza e depois nos revela o contorno da bailarina de madeira e seu tutu esvoaçante. Linda demais. A menina e o macaco conversam sobre a vida, anseios, medos. A menina parece relutante em falar sobre si própria, afinal ela perdeu a mãe, a grande bailarina. Vive agora apenas com o pai, o dono daquela loja cheia de espelhos. 

Aos poucos, ela vai se soltando e até ensaia alguns saltos mortais para o amigo macaco. Eles continuam a procurar o outro macaco escondido no espelho, e no corre-corre pela casa, a menina acaba quebrando uma peça antiga de seu pai. Mil caquinhos espalham-se nas páginas do livro e o macaco fujão é finalmente encontado. O papai chega naquele momento e vocês pensam que ele se importa com o espelho espatifado? Que nada, tudo o que ele quer é apreciar os novos saltos de sua querida bailarina ♥ 

Contradança
Autor/Ilustrador: Roger Mello
Editora: Cia. das Letrinhas
Temas: Universo infantil; Artes
Faixa etária: A partir de 07 anos 
 
Leia também: A descoberta da própria imagem no espelho é capaz de hipnotizar uma criança por horas. Utilizando páginas espelhadas e uma técnica divina que mistura grafite e aquarela, a coreana Suzy Lee narra em Espelho (Ed. Cosac Naify) o primeiro encontro de uma garotinha e o objeto de seu encantamento. Ela pula de felicidade, dança, brinca, torna-se una com o espelho. Difícil é apenas saber o que é realidade e o que é o imaginário. Lovely.

Caravaggio e seu Narciso (c. 1597-1599)
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