O livro do dia é especial por vários motivos e um deles é que hoje o mundo comemora o aniversário de 63 anos do genial escritor norueguês Jostein Gaarder. Ele é o responsável por alguns dos melhores livros de minha vida como O Dia do Curinga, Mistério de Natal, A Biblioteca Mágica de Bibbi Boken e Eu me pergunto..., entre tantas obras lindas que me emocionaram, me fizeram sonhar e indagar à respeito da complexidade – e beleza – de nossa existência. Quão maravilhoso é observar um brotinho crescendo ou um passarinho tentando romper a casca do ovo? “Dentro do ovo há um par de olhos se formando, olhos que um dia vão descobrir esse mundo imenso, enorme, do qual todos nós somos uma pequenina parte. É como se o mundo todo estivesse crescendo ali no escuro, dentro desse ovo”. Perfeito. 

Outro motivo para eu amar tanto esse livro é que ele fala sobre ficar à espera de um irmãozinho - e nos últimos tempos estou imersa neste tema de pura ternura. Melhor ainda: a história é contada por um tio, Joakim, que decide revelar um segredo à sua sobrinha Camila, de 08 anos, relembrando o dia que antecedeu o nascimento de seu irmãozinho (ou irmãzinha, suspense, tchã-rã-rã-rãn), muitos e muitos anos atrás. Então é claro que pensei nas minhas sobrinhas Anna e Isabella e dedico esse post a elas ♥. Enfim, vamos lá! Voltamos no tempo e nos deparamos com Joakim aos 08 anos, cuja casa está em polvorosa: a mãe entrou em trabalho de parto e o pai o acorda de madrugada, para avisá-lo que logo a tia Helena viria ao seu encontro. Eles saem voando e Joakim fica em choque, finalmente chegou o momento tão esperado! Como fazer para driblar a ansiedade, a responsabilidade de ser um irmão mais velho e ter de ensinar como é tudo no mundo? Em meio a devaneios, Joakim ouve um barulhão vindo da macieira do jardim e é lá que encontra Mika, dependurado de cabeça pra baixo num dos galhos da árvore. 

Mika aparentemente caiu de sua nave espacial e assemelha-se a um garotinho comum (ou quase). Ele diz que está sonhando com tudo aquilo, e que precisa estar de volta em casa antes de acordar. Estranhamente, Mika fala o mesmo idioma que Joakim, que o ajuda a descer da macieira, ainda que um pouco confuso com tudo o que está acontecendo. Eles engatam uma conversa e é aqui que conhecemos um dos costumes mais adoráveis do pequeno visitante: Mika faz uma reverência sempre que ouve uma pergunta interessante. “E quanto mais profunda for a pergunta, mais profundamente a gente se inclina”. Munido de seu inseparável livro de dinossauros, Joakim começa a contar sobre a vida na Terra e nem a chegada da tia Helena atrapalha sua explanação. As crianças escondem-se no quarto e, como fã incondicional de história natural, Joakim começa a falar sobre organismos uni e multicelulares, plantas, anfíbios, répteis e mamíferos. Maravilhado, Mika faz muitas – e fascinantes – perguntas e o novo amigo “entra na dança”, retribuindo com mais um tanto de reverências. 

Apesar de aprender com incrível velocidade, Mika tem modos um tanto voluntariosos, típicos de uma criança pequena. Ao cuidar dele, Joakim vai desenvolvendo suas habilidades de irmão mais velho, tais como paciência, delicadeza, proteção e serenidade. E aqui somos obrigados a fazer uma revelação: a aparência de Mika têm certos aspectos alienígenas, então eles precisam passar o dia todo fugindo da tia Helena! Eles passam pelo jardim, onde Mika observa cada folhinha com a lupa de Joakim. Ele está encantado e é impossível não vibrarmos com cada uma de suas descobertas: a grama, a groselha vermelha, um pulgão. Depois de ouvir o barulho da água, Joakim conduz o amigo pela mão até a praia e lhe apresenta ao mar. Aqui eles buscam refúgio na “Cadeira de Pedra” e retomam a conversa sobre os primeiros habitantes da Terra e a evolução. A princípio esquivo e misterioso sobre sua origem, Mika acaba revelando aos poucos sobre a vida no planeta Eljo – mas, nada de spoiler, pra saber mais sobre isso vocês terão que ler o livro. 

No quintal, num barquinho, numa colina, admirando uma galinha, um peixe ou um gatinho, Joakim e Mika discorrem sobre as maravilhas dos sentidos humanos e o poder de adaptação das espécies, tudo isso enquanto o primeiro aguarda o maravilhoso nascimento. E, apesar das características físicas e da distância entre seus planetas, eles percebem que a capacidade de questionar é sua maior semelhança. “Foram necessários milhares de milhões de anos para criar seres como nós. Tudo começou com alguns organismos bem simples no mar. E agora temos uma cabeça capaz de pensar e sonhar, lembrar e esquecer”. O dia vai terminando, e no limiar entre sono e consciência, realidade e sonho, Joakim sabe que está preparado para essa nova fase da vida que se inicia. “Feliz aniversário, mano! Há um mundo inteirinho esperando por você”! E feliz aniversário, Jostein Gaarder, obrigada por essa e todas as histórias espetaculares que você compartilha conosco. Love you!!!