Livro do dia: Fotografando Verger

Livro do dia: Fotografando Verger

Posted by Kátia

Hoje é o Dia Mundial da Fotografia e é claro que escolhi um livro que retrata um de meus grandes ídolos, o francês Pierre Verger. Ele nasceu em 1902, filho de um bem-sucedido proprietário do setor gráfico. Mas, infelizmente, Verger não teve uma juventude muito feliz: antes de completar trinta anos já perdera toda a sua família, o pai, os dois irmãos e por último a mãe. A empresa do pai falira poucos anos antes e o rapaz teve que encontrar uma ocupação. Como não se relacionava bem com seus poucos – e distantes – familiares, cercou-se de amigos artistas. Com o fotógrafo Pierre Boucher aprendeu os primeiros passos da arte da fotografia e seguiu aprimorando-se dia a dia, de maneira autodidata. 

Verger tornou-se um fotógrafo viajante, trocando muitas vezes suas fotografias por alimentação, hospedagem e até pelas passagens. Nos anos 1930 e 1940, começou a vendê-las para jornais e revistas e viajou ao redor do mundo. Vale lembrar que na época de Verger não existia a televisão, muito menos os celulares e a internet, por isso as reportagens eram realmente exclusivas. Desta forma, ele conheceu inúmeros países, utilizando todos os meios de transporte imagináveis: a pé, de bicicleta, carro, caminhão, trem, navio, avião e até de camelo! Em cada local que visitava o encanto sempre vinha das pessoas, a cultura, a língua, religião e costumes. 

O estilo de fotografar de Verger valoriza e natural e o espontâneo. São imagens de pessoas comuns em seus afazeres diários – trabalhando, brincando, conversando, passeando, dançando, descansando. No livro do dia você poderá apreciar várias destas fotos, retratadas em lugares tão diversos do mundo como a China, a Espanha, o deserto do Saara e o Brasil. Verger já conhecera o Brasil de passagem, mas somente em 1946 conseguiu um contrato de trabalho que permitiu sua estada aqui. Logo foi enviado a Salvador, na Bahia, onde mostrou em reportagens coisas que muitos brasileiros e até os moradores locais desconheciam. Para ele, a cidade tinha uma personalidade e beleza únicas, no cais do porto, nas ruas, nas procissões e festas.

As pessoas são sempre os personagens principais em seu trabalho e essas andanças lhe renderam muitos bons amigos. A maioria destas pessoas eram negras (Salvador é a cidade com maior população negra no país), e seus antepassados tinham vivido no tempo da escravidão. Assim, Verger foi se familiarizando com o mundo do candomblé, seus rituais de música e dança. Em Recife descobriu o xangô, e também o Carnaval e o frevo. No interior do estado de Pernambuco, acompanhou a vida dos vaqueiros, conheceu Caruaru, suas feiras e a arte de Mestre Vitalino, que fazia bonecos e brinquedos de barro. Ele também percorreu outras regiões do interior do Nordeste. O que mais lhe chamava a atenção era a força das tradições africanas que, apesar de tão presentes, eram tão pouco valorizadas pela sociedade brasileira. 

As fotos de Verger sobre o candomblé e o xangô repercutiam no trabalho de seus colegas franceses, no continente africano. Eles perceberam semelhanças entre os rituais e lhe convidaram para pesquisar o tema e fotografar mais. Na África, ele conheceu muitas pessoas com sobrenomes que lhe recordavam a Bahia, como Silva e Souza, e descobriu que muitos deles tinham realmente vindo do Brasil. E assim Verger acabou tornando-se uma espécie de mensageiro entre Brasil e África. Decidido a estudar sobre a trajetória de seus amigos dos dois lados do Atlântico, Verger mergulhou no mundo da história. Tornou-se um especialista no assunto e recebeu o título de doutor aos sessenta anos de idade. Ele continuou viajando pelo mundo até bem depois dos oitenta anos, quando retornou de vez para a Bahia e organizou a Fundação Pierre Verger, a fim de preservar o seu legado. A Fundação funciona até hoje, na sua antiga casa vermelha. Para obter maiores informações sobre o trabalho da fundação, acesse o site oficial, aqui. E não deixe de conhecer os outros livros da maravilhosa coleção Memória e História. Feliz Dia da Fotografia! 

Fotografando Verger
Autora: Angela Lühning
Ilustradora: Maria Eugênia
Editora: Companhia das Letrinhas
Temas: Arte; Profissões
Faixa etária: A partir de 10 anos 
 
Leia também: Foto de Macaco é mais um lindo livro da Tara Books, editado por aqui pela Manati. Cansado de ser fotografado diariamente pelos turistas, um macaco toma a câmera emprestada e passa a retratar os seus amigos animais. As ilustrações, no estilo dos pintores patuás de Bengala Ocidental são simplesmente deslumbrantes. Se você ainda não conhece os livros da Tara (leia mais aqui e aqui), a hora é essa!

Meninos do Brasil, por Pierre Verger
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