Como eu disse no comecinho do mês, abril está cheio de comemorações no universo da literatura e hoje é o Dia do Haikai. Quem é doido por poesia, como eu, não pode deixar de celebrar a data com a leitura - e declamações pelo bairro e cidade afora, por que não? – de Pó de palavra, um livro bem simpático que encontrei por acaso numa das edições da Feira do Livro de Porto Alegre (e que foi o primeiro volume da biblioteca da minha sobrinha Anna Midori, antes mesmo do nascimento dela ♥). Mas primeiro falaremos um pouco sobre o haikai. Consagrado por Matsuo Bashô (1644-1694), que é praticamente sinônimo da poesia japonesa, o haikai clássico consiste numa formação de três versos (de 5, 7 e 5 sílabas novamente) que enaltece os elementos da natureza e a passagem do tempo. 

A verdade é que o haikai conquistou o mundo inteiro. Já no início do século 20, o poeta americano Ezra Pound foi um de seus maiores incentivadores no Ocidente. Aqui no Brasil o haikai chega com os imigrantes japoneses e ganha força através do modernista Guilherme de Almeida (“Cochilo. Na linha/ eu ponho a isca de um sonho. / Pesco, uma estrelinha”). Amplamente difundido pelo movimento concreto de Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, o haikai finalmente se popularizou graças a Paulo Leminski que com seu bom-humor o coloriu com a paleta da vida cotidiana. 

O autor do livro do dia, Jorge Fernando dos Santos, entende o haikai como a tentativa de aproximação do corpo e espírito, criando-se uma terceira dimensão na forma do poema. Ou melhor ainda, o haikai é “palavra em pó no conta-gotas da poesia”. A edição traz ilustrações sutis e pequeninas de Luiz Maia que casam perfeitamente com as poesias. O livro é dividido em quatro partes, começando com Ciranda das cores. 

Vale lembrar que o livro vem acompanhado de um cd com os haikais falados e musicados. Uma belezura até para os menorzinhos. Continuamos com Sinfonia dos bichos, que trata de forma singela a vida das aranhas, grilos, vagalumes e até das centopeias. É claro que o meu haikai preferido fala de um gato preto cochilando no muro. A Banguela também curtiu. As Cenas urbanas são reflexivas e As quatro estações finalizam com um aplauso à mãe natureza. Impossível não se inspirar e criar seus próprios haikais, mãos à obra minha gente!