Livro do dia: A extraordinária jornada de Edward Tulane

Livro do dia: A extraordinária jornada de Edward Tulane

Posted by Kátia

Simples assim: durante essa semana só falarei sobre os meus livros mais queridos, aqueles que nunca saem da cabeceira e estão profundamente enraizados em meu coração. É a forma que encontrei para sentir-me melhor e recuperar meu bom humor, dividindo a alegria quase incontrolável que essas obras específicas me transmitem. No último post escrevi sobre A chegada, de Shaun Tan e hoje é a vez de Edward Tulane, da amada Kate DiCamillo (leia sobre ela aqui). Edward é um lindo coelho de porcelana, alto, com olhos pintados numa cor azul penetrante e proprietário de um “extraordinário guarda-roupa composto de ternos de seda feitos a mão, sapatos feitos sob encomenda, do mais fino couro, e desenhados especificamente para seus pés de coelho, e uma enorme coleção de chapéus com furos para encaixar suas orelhas longas e expressivas”. Ele vivia numa bela casa e sua “dona” era uma menina de dez anos chamada Abilene. Você deve estar pensando que Edward era um coelho muito feliz, porque na realidade ele tinha tudo. Errado. Edward não tinha sentimentos. A não ser que conte como sentimento a estima pelo relógio de bolso. Edward só pensava em si próprio. Os seres humanos o entediavam e até o irritavam, e ele fazia de tudo para não ouvir suas conversas.

Abilene ganhara Edward de sua avó Pellegrina, essa sim uma senhora muito espirituosa e sábia, com um leve ar de bruxa. Numa bela noite, enquanto os pais da menina fazem os preparativos para uma viagem de navio a Londres, a avó decide contar-lhe uma fábula. No conto, uma linda princesa que não ama ninguém é transformada num javali e acaba parando na mesa real, bem temperada e assada. Tudo porque ameaçou uma bruxa e insistiu que não amava ninguém. E olha para onde isso a levou! No final da história, Pellegrina lança um olhar a Edward, mas ele não a compreende. À bordo do Queen Mary, a elegância de Edward chama a atenção de todos os passageiros. Inevitavelmente, o desastre acontece: dois meninos resolvem atirá-lo de um lado para outro e o pobre coelho vai parar no fundo do mar. É aqui que a verdadeira jornada de Edward Tulane começa, uma viagem na qual ele aprenderá a sentir, muitas vezes das maneiras mais dolorosas.

Edward permanece no fundo do mar por incontáveis dias (ou seriam meses?) e lá ele descobre o primeiro sentimento: o medo. Desprovido do calor de Abilene e até da simples visão das estrelas, Edward sente o seu primeiro arrepio. Entretanto, durante uma tempestade, ele é lançado para a superfície e resgatado pelo simpático pescador Lawrence, que o dá de presente para a esposa Nellie. Tratado como “Susanna”, Edward ganha um vestido de presente e o que antes o teria enfurecido é recebido com gratidão. Ele passa a fazer companhia para Nellie, uma grande cozinheira que vive a contar suas tristes histórias. Edward surpreende-se: realmente estava interessado na vida de sua bondosa amiga. Porém, o que é bom dura pouco e Edward descobre o ódio na figura da desprezível Lolly, filha de Lawrence e Nellie, que simplesmente o joga no lixão.

Muitas outras pessoas e sentimentos entrarão na vida de Edward. Com o vagabundo Bull e sua cadela Lucy, Edward depara-se com a pobreza, mas também com a suavidade de uma linda canção sussurrada numa noite de luar. Há fúria e maldade neste mundo também, encarnado num tipo que não hesita em arremessar o coelhinho para fora do trem. Mas a esperança é o novo sentimento que Edward agarra com força e a possibilidade de um grande amor surge na forma de uma garotinha doente de quatro anos. Na companhia da pequena Sarah Ruth, Edward sentirá pela primeira vez a necessidade de proteger alguém. E, sim, ele sofrerá. Numa espécie de delírio, Edward julga encontrar os negros olhos de Pellegrina: “Olhe para mim. Seu desejo se realizou. Aprendi a amar. E é uma coisa terrível. Estou arrebentado. Meu coração está em frangalhos. Ajude-me”. A ajuda vem na forma de um restaurador de bonecos e de uma bonequinha centenária que avisa: “Alguém virá buscá-lo. Mas primeiro é preciso que abra o coração”. Perfeito. Sem mais palavras (já estão rolando várias lágrimas por aqui).

A extraordinária jornada de Edward Tulane
Autora: Kate DiCamillo
Ilustrador: Bagram Ibatoulline
Editora: WMF Martins Fontes
Temas: Amor; Perda
Faixa etária: À partir de 10 anos

Leia também: O maravilhoso artista russo Bagram Ibatoulline faz ilustrações realistas baseadas em fotos de determinados períodos históricos. Conheça um pouco mais do trabalho dele em Crow Call (Ed. Scholastic Press), ambientado logo após a Segunda Guerra, quando a garotinha Lizzie se reencontra com o pai, um soldado há anos ausente.

"Se não tem nenhuma intenção de amar e ser amado, então nada tem sentido"
edward-tulane.jpg