Livro do dia: Ou isto ou aquilo

Livro do dia: Ou isto ou aquilo

Posted by Kátia

E hoje é dia da eterna menina Cecília Meireles (1901-1964), uma salva de palmas para esta grande dama da literatura brasileira, que também teve importante atuação como jornalista, professora, educadora, além de ter fundado a primeira biblioteca infantil do Brasil, em 1934, no bairro do Botafogo, Rio de Janeiro. Musa!!! 

Cecília era órfã, foi criada pela avó D. Jacinta, natural de Açores, que deve ter lhe contado muitas lendas e histórias da terra de seus antepassados, pois, aos nove anos, a pequena já escrevia as primeiras poesias. O livro do dia traz muitos poemas nos quais têm vozes não somente as crianças, mas avós saudosas, babás carinhosas e vizinhas inesquecíveis. Tudo isso é Cecília Meireles: mãe, avó, mestra, amiga, confidente. Suas palavras são como um encantamento pronunciado em voz alta: têm cadência, rima, música e força. 

Um cavalinho branco finalmente descansa do trabalho pesado sob a relva e sua alegria é muito real, a sensação de liberdade de movimentos, de sentir que o seu corpo pertence a si mesmo e a ninguém mais. Os carneirinhos brancos “enroladinhos como carreteis de lã” fazem com que todo ser humano aspire a pastorear o rebanho. Uma menina ainda na primeira infância insiste em se tornar bailarina, e mesmo entendendo pouco da própria vida, fica nas pontas dos pés, põe uma estrela no cabelo e um véu e diz que caiu do céu. Duas lindas velhinhas, com suas tranças e xícaras de porcelana recordam a infância, entre um gole e outro de chocolate quente. Uma outra velhinha, sem ter com quem conversar, desenvolve uma nova língua e passa a se comunicar com os animais. 

São detalhes encantadores que te transportam para uma outra época e te deixam ansiosos para vivenciar tantas outras experiências únicas. Um dos meus preferidos é O Vestido de Laura, de “três babados, todos bordados”. Uma camada repleta de flores de todas as cores, a outra de borboletas voando e na terceira estrelas de renda, “talvez de lenda”. Eu leio esse poema e fico imaginando o vestido quase com vida própria. Cecília, ela mesma o próprio sinônimo de vida é que era a “menina que o céu cavalga em estrela breve”. Genial, genial, genial. 

Ou isto ou aquilo
Autora: Cecília Meireles
Ilustrador: Odilon Moraes
Editora: Global
Temas: Poesia; Universo infantil.
Faixa etária: À partir de 07 anos 

Leia também: Olhinhos de Gato (Ed. Moderna) é um livro de memórias da autora, escrito em prosa, no qual o personagem principal é a sua infância, com os momentos de pura solidão, as brincadeiras de roda e a encantadora figura da ama. A minha edição é bem antiga, de 1980, e durante todos esses anos nunca saiu do meu lado.

St. Cecilia, por John William Waterhouse, 1895
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