É curioso como certos livros entram na nossa vida. O livro do dia é um clássico americano, escrito em 1947 (já falei sobre uma paródia dele rapidamente aqui), mas eu só fui descobrí-lo em 1998 ao assistir a um filme que nem era infantil – na realidade é um drama bem pesado no qual um dos personagens, um jovem doente na cama de um hospital, pede que sua mãe conte sua história preferida de infância. A cena é tão linda e emocionante, que fiquei doida de vontade de ler o livro. Felizmente ele fora lançado um ano antes no Brasil (que sorte!). 

A história é bem simples, trata-se de um poema curtinho no qual um coelhinho sonolento deitado em sua cama, num grande quarto verde, despede-se de cada coisa que lhe é familiar, antes de mergulhar no mundo dos sonhos. Primeiro somos apresentados à alguns objetos de seu cotidiano, como o telefone e o balão vermelho. 

Daí a coisa vai ficando mais intimista, com a descoberta de coisas que lhe são realmente queridas. Esses tesouros do coelhinho são mostrados em close, como a foto da vaca pulando sobre a lua e outra de três ursos sentados em suas cadeiras (os três ursos do conto de fadas). Os seus gatinhos de estimação também aparecem para lhe dar boa noite, assim como o par de luvas, a casinha de bonecos e um ratinho de brinquedo. E por aí vai. 

É claro que muita da sonoridade do poema é perdida (também tenho o livro em inglês), afinal é impossível preservar a poesia intacta ao traduzí-la. Mas a graciosidade e a doçura continuam lá, fiquem tranquilos. É delicioso despedir-se com o coelhinho das coisas mais inusitadas, até chegar à majestosa Lua. Eu, na cama à noite, às vezes me pego desejando “boa noite ursos, boa noite cadeiras, boa noite gatinhos e boa noite luvas”. E sempre acordo desejando “bom dia sol, bom dia flores, bom dia todas as cores” (meu livro preferido de Ruth Rocha, em breve aqui!). Como é bom permanecer criança!