Poxa, finalmente chegou o dia de eu falar para vocês sobre o meu amor devotado ao escritor gaúcho Caio Fernando Abreu (1948-1996). Se ele estivesse vivo, hoje comemoraria 64 primaveras. Ah, sim, ele amava a primavera e as flores, e hoje falaremos justamente sobre essa grande paixão que ele cultivou nos seus últimos anos de vida: a jardinagem. Eu me identifico com ele também por causa da jardinagem, mas principalmente porque ele era o próprio Amor encarnado. Ah, e como ele sabia das coisas...Caio F. era um leitor de almas, um desbravador de corações, um ser generoso que compartilhava com todos a sua luz e seus conhecimentos. 

Caio F. escreveu romances, contos, crônicas, peças de teatro, e posso dizer que, graças a ele, me tornei uma pessoa muito mais culta, tive acesso a infinitas dicas de livros, filmes, músicas, artes. Tudo através de suas crônicas publicadas em jornais diversos como Zero Hora e O Estado de São Paulo e posteriormente reunidas em livros (aliás acabou de sair um livro com crônicas inéditas dele, que se chama A vida gritando nos cantos, da Editora Nova Fronteira) ou de outras obras de sua literatura, incluindo um grosso volume de cartas do qual não desgrudo. Eu recomendo que você leia tudo isso, aos poucos, saboreando cada conto, cada crônica e, se possível, que mantenha sempre um livro dele por perto, na cabeceira. É uma companhia que só te fará bem, eu garanto. 

Mas hoje falaremos sobre as flores, especialmente os girassois. Como disse antes, Caio F. cuidou de seu jardim em Porto Alegre, apaixonadamente, e mais ainda, ele declarou todo o seu carinho aos brincos-de-princesa, lírios, azaleias, gladíolos, rosas cor-de-rosa (suas preferidas!) e girassois numa série de crônicas graciosas. No livro do dia, ele relata a paciência que os girassois demandam, com seu crescimento lento e o duelo com milhares de inimigos: formigas, caracois, ventos arrasadores. Ele cuidava dia a dia dessas voluntariosas flores, e nada. O botão parecia prestes a abrir, mas ficava só na promessa. 

Na volta de um mês de viagem, o terror: vários girassois estavam quebrados!!! Ele tenta salvá-los, amarrando-os com cordões em estacas, mas um deles parecia prestes a desfalecer. Isso porque o talo do girassol é muito frágil, basta a flor abrir que ele geralmente despenca. “Como se não suportasse a beleza que ele mesmo engendrou”, diz Caio. Emoção pura. Conheçam Caio F., suas vidas jamais serão as mesmas.