Ah, hoje é comemorada uma data muito curiosa e interessante, o Dia do Canhoto! Como boa canhota é claro que eu não deixaria essa oportunidade passar em branco e escolhi como livro do dia a obra de um canhoto muito, muito, muuuuuito célebre, Lewis Carroll. E o que dizer do livro em si, amado, idolatrado, um dos mais traduzidos de todos os tempos e que mudou de perspectiva não apenas o universo dos livros infantis, e sim, a literatura de forma geral? Para citar um exemplo, Alice no país das maravilhas influenciou Oscar Wilde, meu muso absoluto, ou seja, é muita genialidade para um livro – e um autor - só. Eu poderia falar também sobre a repercussão de Alice nas obras de Mark Twain, Rudyard Kipling, Robert Louis Stevenson e Neil Gaiman, mas acho que já dei o meu recado. 

Carroll escreveu Alice inspirado pela convivência com crianças, especialmente com Alice Lidell, filha de um grande amigo. Publicado pela primeira vez em 1865, o conteúdo do livro chocava-se de frente com a sociedade e os costumes da época, numa Inglaterra extremamente rígida e mecanizada. Decidido a restaurar o direito da criança de brincar e portar-se como tal, Lewis Carroll criou um mundo particular no qual os autoritários adultos são representados por criaturas singulares, que vivem dando ordens e sufocando toda e qualquer forma de criatividade. A menina Alice, por outro lado, rebela-se contra esse mundo e dá várias lições de sensatez ao longo de sua jornada. 

Acho que todo mundo já conhece a história, mas, em todo caso, vale relembrar. Alice passa uma tarde entediada no jardim, sob um sol escaldante, com uma preguiça colossal de fazer um colar de margaridas ou acompanhar a leitura da irmã. Ela vê um Coelho Branco correr bem próximo, um coelho que fala, um coelho que usa um colete e que ainda por cima saca um relógio de bolso e se queixa de seu próprio atraso. Sem pensar duas vezes, a menina sai correndo atrás do coelho e pula numa toca parar tentar alcancá-lo. Pronto! Começa assim a aventura no estranho País das Maravilhas. 

Entre bebidas que encolhem e bolinhos que fazem crescer, cogumelos duvidosos, chás eternos, sopas apimentadas e tortas que semeiam a discórdia, Alice travará contato com os tais seres irritadiços, falastrões e descontrolados. Encontrará talvez algum consolo no Gato de Cheshire, o famoso Gato que Ri, que assume logo a loucura, aparece quando bem entende e se recusa a adular a Rainha de Copas. Esta bem que tenta “cortar-lhe a cabeça”, mas Alice a enfrenta mesmo tendo voltado ao diminuto tamanho normal. Ao abrir os olhos e encontrar-se de volta ao seu mundo, desperta de um sonho confuso, Alice relata com alegria à irmã todas as aventuras vividas na companhia do Gato, a Lebre Aloprada, o Chapeleiro Maluco, a Falsa Tartaruga, o Dodó, o Grifo, a Duquesa e outros tantos mais. 

No final, sua irmã suspira e fecha os olhos, imaginando-se também naquela terra incrível e barulhenta, colorida, cheia de aromas, sabores e caras engraçadas. E pensa na pequena Alice já crescida, e em “como ela conservaria, através dos seus anos maduros, o coração simples e afetuoso da sua infância. E como ela reuniria ao seu redor outras crianças e, dessa vez, faria os olhos delas brilhar de alegria com tantas histórias fantásticas”. Essa edição conta com ilustrações feitas à partir de cartas de baralho do mundo inteiro, que foram transformadas em maquetes e fotografadas, um trabalho primoroso do fotógrafo Luiz Zerbini. Fã incondicional de cartas de todos os tipos, esta que vos fala quase foi à loucura. Um livro perfeito, em todos os detalhes.