Hoje, 08 de setembro, é aniversário do meu grande - e fofo! - companheiro Sérgio Fabiano, um ser humano que admiro imensamente, com seu lindo coração paciente, uma calma invejável, uma serenidade capaz de aplacar o mal e que contagia a todos os que têm o privilégio de conviver com ele. Apaixonado por cinema antigo (e em especial por Ava Gardner), animais, futebol, super-heróis e a arte do churrasco, Sergião é um colecionador de memórias, um cara que faz questão de honrar e manter o passado vivo, e que generosamente compartilha tudo isso com a gente. Enfim, ele pediu que eu escrevesse sobre o seu livro preferido de infância, O menino do dedo verde e é claro que atendi prontamente ao seu desejo. Fiquei impactada ao ler a história de Tistu pela primeira vez, bem novinha, estarrecida com as lições do doce menino e principalmente pelo final surpreendente. A cada década, pelo menos, tento reler a obra e sempre encontro um novo pensamento, uma nova delicadeza, um novo gesto daquela criança loira e rosada que só sabia amar. 

Bem, Tistu nasceu numa família abastada (e no meu ponto de vista um tanto ostensiva). O Sr. Papai é dono de uma fábrica de canhão na cidade de Mirapólvora e Dona Mamãe uma mulher amorosa que decide educar o filho em casa. Pelo menos até os oito anos, porque depois Tistu tem que ir para a escola normalmente. O problema é que o menino não consegue se concentrar nas aulas regulares, perde o foco, fica com sono e já no primeiro dia é expulso do colégio, com o bolso cheinho de notas zeros. Os pais se preocupam porque o filho “não é como todo mundo”. Isso dá uma bela ideia ao Sr. Papai e um novo sistema de educação é implementado: o menino olharia tudo com os próprios olhos, aprenderia tocando as pedras, plantas, os canhões, teria mestres particulares que o preparariam para a vida. 

O primeiro professor é justamente aquele mais adorável, ainda que bronco e um tanto ranzinza: o jardineiro Sr. Bigode. Um homem de muita experiência, com bigodes longuíssimos que eram como maravilhas da natureza. Sr. Bigode não tinha tempo para ficar bajulando madames, pelo contrário, ele guardava todos os elogios para as suas amadas flores. Ali, Tistu descobre seu verdadeiro lugar. Sob as estufas de vidros cintilantes, mimosas floresciam o ano todo, palmeiras, hortênsias, lírios, begônias, rosas, orquídeas, a beleza não tinha fim. Ao ter uma lição de jardim, o destino do menino é traçado. Seguindo as ordens do Sr. Bigode, Tistu prepara a terra para receber sementes, mas as plantas crescem apenas com o seu toque. Maravilhado, Sr. Bigode examina o polegar de Tistu e garante que o menino tem o dedo verde. Não que o polegar dele tenha a cor verde, não, é um polegar normal cor-de-rosa. Mas Tistu tem um talento oculto, e seu toque revive sementes esquecidas, perdidas no meio da terra, das pedras, das ruas. Não importa onde ele esteja, basta tocar na semente e ela vira flor na hora. Eles decidem manter o tal dom em segredo, mas logo Tistu o coloca em prática. 

Simples assim: Tistu descobre que “as flores não deixam o mal ir adiante”. Então ele transforma a cadeia num imenso jardim florido, e depois a favela e também o hospital no qual vive uma menina triste que não pode andar. E quando ele descobre que a guerra pode destruir não apenas um jardim, mas sim nações e seres humanos, seu polegar manda mais um recado, e a abominável luta entre Voulás e Vaitimboras termina numa explosão de flores. Mas há ainda uma última descoberta a ser feita por Tistu e garanto que o final desta experiência marcará indelevelmente sua vida.