As histórias do escritor colombiano Jairo Buitrago e do ilustrador peruano Rafael Yockteng geralmente versam sobre solidariedade, tolerância e superação. São crianças que se sentem sozinhas num mundo cheio de adultos, crianças perdidas em cidades grandes de idiomas estranhos, crianças que precisam crescer antes do tempo e por isso recorrem à imaginação para preservar um pouquinho de sua infância e inocência. E não é diferente em Eloísa e os bichos, um delicado conto sobre migração e solidão, que evoca lindamente A chegada, de Shaun Tan (aqui). São obras tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes, que utilizam muitas alegorias para ilustrar o sentimento de “diferente”, de não pertencer àquele lugar e, claro, a chance de recomeço, as novas amizades, o conceito de lar. 

Aqui é uma garotinha que se sente um “bicho estranho” ao se mudar com o pai para uma cidade (ou país?) sobre a qual ela não sabe absolutamente nada. Ela mal sabe o caminho para a escola, não conhece ninguém e fica tensa até na hora do recreio, porque tem tempo demais para se sentir isolada. O pai também demora uma eternidade para ir buscá-la e isso é um tormento. 

Tampouco conhecemos o passado deles, não sabemos o que perderam e o que deixaram para trás. A figura da mãe é só um retrato um tanto antigo. De alguma forma, sentimos que eles sofreram e torcemos muito para que eles construam uma vida nova na cidade. O mais curioso de tudo é que a menina e o pai são os bichos esquisitos, ainda que todos os outros personagens sejam representados como insetos dos mais bizarros. 

Mas pai e filha conseguem superar as dificuldades iniciais e começam a compreender a cidade e a interagir com as pessoas nas ruas, com os vizinhos e colegas de classe. Eles aprendem os costumes, adquirem novas habilidades e a menina nem mais reclama por ser a mais baixinha da turma. Agora a garotinha aproveita o seu tempo na escola com os novos amigos, eles brincam juntos e até o seu pai encontrou amigos para si próprio. Tudo parece entrar nos eixos quando eles começam a sentir amor por aquele lugar e aquelas pessoas. Sim, eles finalmente estão em casa. 

A louca dos crafts, tipo eu