Eu adoro histórias sobre o encantado imaginário infantil e sua perplexidade perante o mundo tão insano dos adultos. Já falei sobre isso algumas vezes, aqui, aqui e aqui, por exemplo. E o livro de hoje também versa belamente sobre o tema, mas com um diferencial: a ponte entre os dois mundos é representada por uma gata branca, muito convencida.

A menina Christine tem oito anos e vive chegando atrasada às aulas – na verdade ela nunca chegou no horário! – e tudo por culpa da tal gata branca, que sempre tem respostas para todas as indagações da criança. Imagina só, oito anos, e um milhão de perguntas na mente! Por conta dos atrasos, Christine toma bronca na escola e em casa, o professor a chama de “insolente”, e ela gosta disso, ainda que tenha aprendido o significado da palavra recentemente.

Ignorando os “rosnados” dos adultos, Christine sente-se uma menina especial, com o mundo inteiro ali na sua rua, diante dela: poças de gasolina coloridas e reluzentes; lesmas gordas, gosmentas e vermelhas; pedrinhas sortidas e balas de framboesa. Pregos retorcidos e enferrujados; lagartixas, margaridas e a velha gata branca, que era tão imortal quanto ela. Pelo menos era assim que se sentia.

Aos poucos, a garota vai aprendendo a lidar com sentimentos mais complexos como a solidão (na forma do carteiro Waldemar Buck e do vizinho, o garotinho Pug, “mais sozinho do que um poste de luz zumbindo no meio da noite”), a compaixão e o altruísmo. Quase ao mesmo tempo percebe que é capaz de encontrar suas próprias respostas e que a gata não é realmente a detentora de toda a sabedoria do universo. As ilustrações da gata embelezam o livro, sempre retratada em poses desafiadoras. Ela é ótima!