Hoje, dia 22 de maio é o Dia do Abraço e especialmente o dia da Anna Midori. Minha sobrinha linda comemora 02 aninhos e o seu maior presente de aniversário será a irmãzinha Isabella, que deve chegar nas próximas semanas. Ai que missão quase impossível escolher um livro para homenageá-la, mas elegi esse clássico de Nathaniel Hawthorne (indicado para o público infantojuvenil) por um simples motivo: o contador de histórias. O tempo todo eu me transportei para o lugar de Estácio, um jovem efusivo que vive rodeado de crianças e que reinterpreta os mitos gregos de forma brilhante. Eu quero me ver assim no futuro, ao lado das minhas adoráveis sobrinhas, contando, inventando, vivendo um monte de histórias incríveis. Só espero que a distância atrapalhe menos. De qualquer forma, esse livro é todo seu Anninha! Um feliz e iluminado aniversário é o que deseja a sua tia que te ama muuuuuito!!! 

O livro começa com o nosso já querido Estácio reunido com as crianças na casa de campo Tanglewood, onde esperam ansiosamente que a neblina se dissipe e o sol apareça com força total. O dia promete. O cenário não poderia ser mais lindo e estimulante: o vapor branco cobre tudo com exceção dos topos amarelados e avermelhados de algumas árvores; a montanha Monumento, ao longe, parece flutuar numa nuvem; as colinas mais próximas estão meio submersas e pontilhadas por pequenas coroas de nuvens. Quase uma miragem. Mas as crianças estão impacientes, elas querem brincar e o sol, preguiçoso, nem pensa em dar as caras. O primo Estácio – célebre contador com a tenra idade de 18 anos – começa a relatar a história A cabeça da Górgona. Eu sei que os mais jovens devem pensar em Percy Jackson quando falamos sobre o herói Perseu, mas pra mim (a velhinha) Perseu sempre será o meu ídolo de infância, aquele que apareceu no filme Fúria de Titãs - o original de 1981 com muitas criaturas fantásticas criadas pelo mestre Ray Harryhausen (Bubo forever!). 

Mas vamos à história de Perseu, que foi atirado ao mar ainda bebê com sua mãe Dânae e obrigado a crescer na ilha de Serifo, governada pelo malvado Polidectes. Este, invejoso, vê Perseu tornar-se um jovem belo e forte e lhe faz um pedido pra lá de inusutado: a cabeça da Górgona Medusa para oferecer de presente à sua noiva Hipodâmia. É claro que isso era apenas uma desculpa pra se livrar de Perseu, mas lá vai ele todo disposto, ainda que sem saber ao certo como matar a Medusa. As irmãs Górgonas, à propósito, são retratadas como uma espécie maligna de dragão, com centenas de serpentes vivas e sibilantes no lugar dos cabelos, dentes pontudos, mãos de bronze, corpos cobertos de escamas e asas de ouro puro. Medo!!! Mas eis que aparece o fanfarrão Hermes - que aqui recebe o nome de Azougue por causa de sua velocidade e sandálias voadoras - para ajudar o nosso herói. Eles precisarão do auxílio das Três Gréias (bruxas que compartilham um único olho mágico) e das ninfas antes de chegarem à toca das Górgonas. Assim que acaba de contar a história, Estácio é aplaudido pelo menores, enquanto é repreendido pela maiorzinha “do contra” Cássia, que acha que ele toma muitas liberdades para com os mitos gregos. Assim, entre risos e deboches eles percebem que a névoa desapareceu. As crianças recolhem seus brinquedos e cestas de piquenique e partem todos para o passeio. Logo reencontramos a trupe no Ribeirão da Sombra, onde Estácio lhes conta a história do ganancioso Rei Midas em O toque de ouro. 

Numa certa altura do livro, Estácio é novamente acusado de subverter os mitos clássicos, ao que ele responde - de forma majestosa - que os mitos são um bem comum da humanidade, que os antigos poetas os remodelavam a seu bel prazer e que ele, sim senhor, tinha todo o direito de fazer o mesmo. Eu adoro esse personagem e a “licença poética” de Hawthorne para com os mitos, tornando-os mais acessíveis, divertidos, sarcásticos, sem aquela beleza um tanto fria e inalcançável. Ele humaniza os deuses e até os heróis sempre tão fortes e irrepreensíveis. Belerofonte, por exemplo, na história A Quimera se recusa a domar o selvagem Pégaso, e tira-lhe a correia encantada. Se o cavalo alado fica e o ajuda a matar o monstro de três cabeças é por sua própria vontade e amor. Pandora, em O paraíso das crianças, aparece como uma menina e não é a única culpada por liberar todos os males do mundo. Pelo contrário, ela tem um “cúmplice”, Epimeteu, cuja omissão é a verdadeira responsável pelo mal. Mas, no final das contas, eles libertam também a Esperança. 

Há ainda o encontro de Hércules com o gigante Atlas em As três maçãs de ouro e mais uma aparição do ótimo Azougue em O cântaro milagroso, uma história maravilhosa que fala sobre humildade, bondade e o dom da hospitalidade. Filemôn e Báucis formam um velho casal que, ao contrário de sua vizinhança, sempre recebe bem os viajantes cansados. Pobres e honrados, eles tiram seu sustento da terra que plantam e dos animais que tratam com todo o respeito. Ao acudir dois viajantes misteriosos que são expulsos da aldeia, eles jamais imaginariam estar recebendo em casa o mensageiro dos deuses Hermes e o próprio Zeus em pessoa! Como recompensa, eles ganham muito mais do que um cântaro que nunca esvazia: a eternidade na forma de um carvalho e de uma tília, sempre a saudar e a recepcionar os viajantes fatigados. Ao final do livro, até a menina Cássia derrama lágrimas por conta das histórias de Estácio. O poder de emocionar, de instigar, de desvendar um mundo novo (ou vários!) através das palavras. Eu só desejo um bocadinho desse superpoder para compartilhar com as minhas meninas queridas. O aniversário é da Anninha, mas eu também faço um pedido. Poder estar lá, por elas. E é pique, é pique, é pique, é hora, é hora, é hora. Rá-tim-bum!!!