Semana de Halloween tem que começar com história de bruxa, certo? Na verdade, as protagonistas do livro do dia são uma velha vassoura de bruxa e a gentil senhora que a acolhe. Para que fique bem claro, as vassouras das bruxas não duram para sempre. Elas resistem muito mais do que aquelas que utilizamos para varrer a cozinha ou retirar o excesso de folhas do jardim, mas ainda assim, as vassouras de bruxa envelhecem. Isso não acontece de uma hora para outra (ufa!), as bruxas podem sentir a redução da potência e as corridas costumam tornar-se mais longas, a fim de dar impulso e alçar voo. Imagina só o azar da bruxa da nossa história, que despencou lá do alto, sem nem um aviso sequer, e foi aterrisar numa plantação de abóboras, no meio de uma noite fria de outono.

Mas nem tudo foi tão ruim, já que ela estava na propriedade de Minna Shaw, uma senhora justamente conhecida por sua extrema bondade. A viúva Shaw socorre a bruxa machucada e a leva para casa. Como agradecimento pelo carinho dispensado, a bruxa deixa a velha vassoura como presente para Minna Shaw. Logo, ela descobre as mil e uma utilidades da vassoura: ela varre, varre sem parar e não apenas isso. A inteligente vassoura aprende qualquer tarefa em questão de minutos. E passa a auxiliar a nova dona em todas as tarefas domésticas. Ela corta lenha, carrega o balde de água, alimenta as galinhas e leva as vacas para o pasto. Melhor ainda: ela toca lindas melodias no piano, uma nota por vez.

Entretanto, a inveja aparece na forma de seu único vizinho, o senhor Spivey, que fica horrorizado com a vassoura encantada e a chama de "coisa do demônio". Ele incita até os vizinhos mais distantes contra a inocente e prestativa vassoura. A gota d'água se dá quando seus filhos atacam a vassoura com pauladas e ela revida bravamente. Junto com mais três homens das redondezas, Spivey obriga Minna Shaw a lhe entregar a vassoura. Sem perder a calma e a gentileza, a senhora vê a vassoura ser amarrada e atirada a uma fogueira. Num minuto, as chamas transformam a vassoura em cinzas. 

A vida volta ao "normal" e, numa certa manhã, Minna Shaw reúne todos os moradores locais. Ela havia visto o fantasma da vassoura, lívido, a vagar pela floresta com um machado. Spivey não acredita nela, mas mesmo assim espia pela janela à noite. E eis que lá está, o fantasma branco saindo da floresta e rodeando sua casa. A cada noite se aproxima mais e o ápice do horror se dá quando a vassoura chega à sua porta e bate suavemente com o machado. Toc toc toc. É claro que o covardão Spivey junta os seus pertences e parte com a família na manhã seguinte. A casa de Minna Shaw também amanhece silenciosa, exceto pela melodia suave do piano, tocada nota por nota. Ela desperta com uma batidinha no ombro e sorri para a sua querida vassoura, que mesmo pintada de branco não era fantasma coisa nenhuma!

Uma história linda e comovente, com ecos de Frankenstein, de Mary Shelley e Penacho, de Nathaniel Hawthorne, retratando o preconceito contra o diferente, horror do qual padeceram as próprias bruxas. As ilustrações que estão acima de qualquer descrição, o autor utiliza uma das técnicas que mais amo, o lápis carvão. Chris Van Allsburg (duas vezes vencedor do Caldecott Medal) é ninguém menos do que o "pai" dos maravilhosos O Expresso Polar, Jumanji e Zathura. Mas ele mesmo admite que o seu livro preferido é este A Vassoura Encantada. O meu também