Livro do dia: Um jardim de poemas infantis

Livro do dia: Um jardim de poemas infantis

Posted by Kátia

“O mundo está repleto de infinita beleza;
Felizes como reis, seremos com certeza.” 
 

A primavera começou ontem e para comemorar compartilhamos com vocês um jardim florido e transbordante de poemas infantis. O escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894) é certamente mais conhecido por conta de suas histórias de terror e aventura, como O Médico e o Monstro e A Ilha do Tesouro. Seus deliciosos poemas, no entanto, revelam a imaginação fantástica de uma criança de saúde frágil que passou dias intermináveis na cama. A delicadeza tem início logo na dedicatória: um poema para a babá Alison Cunningham, que foi “segunda mãe e primeira confidente”, por todas as histórias que contou e dores que suavizou. Adorável, no mínimo. 

O menino Stevenson viaja pelo mundo todo e por diversos reinos mágicos, sem ao menos sair do lugar. No País dos Acolchoados (ou seja, a sua cama e cobertas) ele vê soldados de chumbo fazendo manobras nas colinas de colchas, e frotas de navios vencendo o mar bravio de cobertores. Na Terra dos Livros de Histórias, o sofá vira um muro escuro atrás do qual se esconde o pequeno caçador. Ele sai em busca da floresta e seus perigos, numa viagem solitária noite adentro. Já no País da Diversão vive um povo pequenino, onde trevos são árvores e poças d’água assemelham-se a mares profundos. À caminho do Reino do Sono ele vê um exército, com seus reis e imperadores, a marchar no gramado. Lá também se encontra um grande circo, e homens e animais de todas as espécies. 

Quando o destemido aventureiro sente-se melhor de saúde, o jardim é a porta mágica que o transporta a novos mundos. Uma batalha de piratas domina o prado ondulante, como se fosse um mar de verdade. Do alto de uma cerejeira ele enxerga lugares e pessoas fascinantes, “e uma estrada onde todas as setas, apontam sempre a terras incertas, onde todas as crianças jantam cedo, e vida possuem todos os brinquedos”. O menino também conversa com a ventania, tão misteriosa, que empina pipas e conduz pássaros no céu. Ela é surpreendente e vai por caminhos que ele não pode alcançar. Mas ele pode capturar estrelas, e sempre deixa um balde com água a postos para a pescaria noturna. 

Stevenson relembra com saudosismo lírico a criança que foi um dia (e antes de ler esse livro eu jamais poderia imaginá-lo assim!), e embala carinhosamente todas as crianças que fizeram parte de sua vida. Na parte final, mais dedicatórias: à mãe, à tia, aos primos Willie e Henrietta que, ao seu lado, foram os soberanos do jardim. E para você, leitor, há um lindo poema também. À Minnie, seu primeiro amor de infância, ele dedica palavras emocionantes de alguém que deseja, ardentemente, agarrar um passado inalcançável. Ele revisita o quarto de brincar, favorito de ambos, e os quadros a preencher todos os cantos. Quadros dramáticos, intensos, memoráveis, que retratavam grandes confrontos, naufrágios de navios, escaladas audaciosas e crianças quase submersas atravessando rios. A dedicatória à Minnie é tão impactante que decidi terminar com um trecho dela. Não deixem de procurar por essa joia da literatura, não será tão fácil encontrá-la, mas o final da jornada certamente lhes reservará momentos inesquecíveis. 

Na sala de estar, o assoalho sem nobreza,
Era rústico e singelo como a costa escocesa;
Mas quando subíamos os dois numa cadeira,
A beleza então do Oriente nos surgia inteira!
Era como se fosse uma fábula, embora,
Eu seja apenas um homem velho agora;
Minnie, teu retrato, durante todo o ano,
Permanece no exótico armário indiano,
Amável e sorridente, a encantar a estante!
Estás, porém, longe demais para que a alcance,
Me estendas a tua mão, e estes versos, querida,
Recebas em nome de nossa velha e saudosa vida. 
 
Um jardim de poemas infantis
Autor: Robert Louis Stevenson
Editora: Sulina
Temas: Universo infantil; Poesia
Faixa etária: A partir de 07 anos

Assista também: Pegando carona no título do livro de Stevenson, Um Jardim de Poemas Infantis (A Child’s Garden of Poetry, 2011) é a segunda parceria da HBO com a Poetry Foundantion, num curta de 30 minutos que apresenta crianças falando sobre poesia e recitando suas preferidas. Há também a participação de artistas consagrados, que declamam poesias de Basho, Emily Dickinson, Shakespeare, E. E. Cummings, Robert Frost, William Wordsworth e Robert Louis Stevenson, claro! Uma das minhas preferidas é When You Are Old (aqui), de Yeats, interpretada pelo meu muso Liam Neeson. Genial!!!

Amy Sol e seu jardim de maravilhas ♥
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