Clarice Lispector avisa logo no início: não se trata da história de um coelho falante. O nosso coelho, aliás, não é lá muito diferente dos outros, exceto, talvez pela velocidade de seu nariz. Então não pense que ele vai sair por aí distribuindo ovos de Páscoa. Mas uma coisa temos que admitir, o coelho Joãozinho é completamente fofo e gracioso. E mais encantador ainda é o fato de o conto ter sido escrito como um “pedido-ordem” do filho de Clarice, Paulo. O estilo da narrativa e a maneira como se dirige ao filho e aos leitores são apenas alguns dos motivos que fazem de Clarice Lispector uma escritora tão adorada. Mais do que isso, uma unanimidade nacional. 

Joãozinho, o coelho branco vivia a pensar ideias com o seu nariz cor-de-rosa. Num belo dia ele fareja uma ideia tão maravilhosa que mais parece ideia de menino. E essa ideia brilhante consiste em escapar de sua casinha toda vez que não há comida. Pode parecer coisa simples, mas a natureza de um coelho só é esperta para as suas necessidades mais primordiais. E o mistério da história é justamente esse: como foi que Joãozinho conseguiu escapar de sua casinha? A “casinha” era na realidade uma gaiola, com tampo de ferro pesado e grades estreitas que ele não poderia vencer nunca, pois era um coelho grande e gorducho. 

E toda vez que Joãozinho fugia, lá ia a meninada correndo atrás dele. Depois de um tempo, todos se deram conta de que o coelho esperto só fugia quando não tinha comida na casinha. Então o bichinho começou a ser mimado com um montão de guloseimas. Motivo para fugir ele não tinha mais, a questão é que ele tomou gosto pela aventura. A emoção da fuga, a caçada, a correria e os gritinhos das crianças, o retorno a casa e o prato cheinho que o aguardava. Tudo isso deixava Joãozinho feliz. Ele era tão feliz que mexia e mexia o nariz como se estivesse farejando o mundo inteiro. 

A linguagem do texto faz com que eu me sinta uma criança de novo, é como se eu estivesse numa roda com outras crianças, e Clarice no centro a nos relatar o mistério do coelho Joãozinho. Que sensação boa! A esta altura é claro que você já está imaginando uma série de aventuras para ele, aonde será que ele ia quando fugia? Essa é a delícia da história. Ele ia visitar a namorada, mas também poderia ter ido nadar com a amiga capivara. Ou tomar sol à beira do rio. Clarice conta que franziu e franziu o nariz para descobrir os mistérios de Joãozinho, e confessa que só ficou com vontade de comer cenoura. E já que os meninos e as meninas entendem muito mais de coelho do que os adultos, você bem que pode mexer o seu nariz e tentar elucidar esse enigma. E vale ficar com vontade de comer cenoura, ou melhor ainda, bolo de cenoura com calda de chocolate. Afinal, essa é a pedida do dia. Feliz Páscoa!!!