Eu já falei aqui (e aqui) sobre alguns bichos que algumas pessoas insistem em “rotular” como feios ou assustadores, acho isso a maior bobagem! Pois bem, eu amo todos os animais e os trato com o mesmo respeito que dispenso a um ser humano, mas é claro que existem aqueles que enternecem mais meu coração. Um deles é a capivara. A autora, Florence Breton, já me ganhou na dedicatória: “Para todas as capivaras do mundo e para todos os outros bichos que o ser humano acha feio”. Eu acho as capivaras lindas! Mas no livro do dia elas não se sentiam bem assim... 

A capivara poeta achava que tinha uma cabeça e um bumbum grandes demais. Não gostava de sua cara, queria ser alta como o tuiuiu, com o pescoço elegante, colorido que nem bandeira. Já a capivara acrobata queria ser linda como os colhereiros, que voavam por onde queriam, bem ligeiros. A capivara pintora queria ser colorida como as araras,  a capivara comilona queria voar sobre as águas como os jaçanãs, que deslizavam leves como borboletas. A capivara nadadora queria ter a voz da curicaca. E a capivara médica queria morar na copa das árvores como as garças brancas. 

Sempre a suspirar, as amigas capivaras aos poucos vão percebendo que cada espécie tem suas qualidades, defeitos e limitações. Nenhum animal, racional ou não, é perfeito. Então elas observam os urubus, sempre a espreitar e os consideram mal-educados. “A capivara é mais meiga, é mais legal. Prefiro ser capivara”, diz a pintora. E assim acontece sucessivamente, com as capivaras observando a ação de tucanos contra um ninho de cabeças-secas e um martim-pescador que mergulha ferozmente e reaparece com um peixe na boca. Para elas parece crueldade, mas é a lei da sobrevivência na floresta, melhor não julgar ninguém para não correr o risco de ser julgado. Concordam? 

Felizes da vida, as amigas brincam de faz de conta, imaginam que são outros animais, mas no final do dia voltam animadíssimas para a sua pele de capivara. Nada melhor do que ser capivara e admirar nas baías o pôr do sol tingindo as piranhas de rosa! As capivaras são demais! A autora é uma francesa radicada em São Paulo, apaixonada pelos animais da fauna brasileira. No final do livro, um guia descreve os animais citados no livro, bem bacana. Inspire-se como Florence e conheça intimamente a nossa fauna, certamente uma das mais lindas e ricas do planeta.