Prosseguimos na deliciosa semana do Halloween, desta vez com um livro para lá de assustador. A ótima Coleção Medo, da editora Edelbra traz para os dias atuais os monstros consagrados da literatura e do cinema, como bruxas, lobisomens e vampiros. Como esses jovens seres sobrenaturais resistiriam nos dias de hoje? Este é o ponto de partida para os livros da série e o escolhido da vez é o surpreendente Sonetos nas Trevas. O livro do dia acompanha a caçada de um lobisomem, e a criatividade começa logo na estrutura narrativa. A história começa na sétima - e última - noite da Lua Cheia e segue no rastro do lobisomem, durante a sua fase ainda animalesca (Lua Minguante), passando por um período de pura lucidez (Lua Nova) e voltando ao espírito de fera (Lua Crescente e novamente a Lua Cheia). Ora narrada pelo adolescente em pele de lobo centenário, ora narrada pelo Comandante de Campo Javert - uma clara homenagem ao obcecado personagem de Victor Hugo - a sanguinolenta saga viaja até a Grécia Antiga, para falar dos mitos de criação das tão temidas criaturas.

A Falange é descrita como "uma força privada internacional", que tem como único objetivo a eliminação de criaturas monstruosas incontroláveis (CMIs). Dentre a fileira de talentos que despontam na Falange, Javert é o mais respeitado e talvez o mais odiado deles. Bem-sucedido em todas as missões nas quais atuou, o mais jovem Comandante de Campo de todos os tempos vive apenas para exterminar esses seres que representam perigo para a humanidade. Ele não acredita que os lobisomens possuam alma ou entendimento de mundo, são apenas bestas-feras e precisam ser excluídas urgentemente. Ele caça à moda antiga, com o garrote na cintura sempre pronto a disparar. Ele não hesita, ele não sente, ele apenas age. Seus subordinados o temem, porque dentro dele moram as trevas. Como no clássico de Victor Hugo, o perseguidor é muito mais temível do que o suposto contraventor.

Por outro lado, acompanhamos os pensamentos desconexos e a crescente loucura do lobisomem, que logo descobrimos ser Dimitri Mavropoulos. Ele teria sido transformado em 1915, aos dezesseis anos de idade. Refugiado no subterrâneo e ferido por dardos de prata, Dimitri é seguido de perto por Javert. Ao mesmo tempo em que o lobo recupera a consciência e a forma humana, lamentando através de belos sonetos a perda trágica de sua amada Miranda, o Comandante, ensandecido, arrasta homens para debaixo da terra, rumo à escuridão e à podridão da toca da fera. 

Relembrando a infância perdida na querida Grécia, Dimitri chega à mitologia de seus antepassados ao evocar Cronos, o Tempo, que com medo de perder sua supremacia devorava os filhos recém-nascidos. Zeus foi o único que conseguiu escapar, devido a uma artimanha da mãe Reia, e acabou derrotando Cronos. Dimitri também fora amaldiçoado com a sina de devorar seus semelhantes. Entre todas as criaturas das trevas, o lobisomem seria o mais sofredor de todos. Não um morto-vivo como os vampiros ou zumbis, mas um condenado a vagar por séculos em sua meia vida e atacar os seres de sua própria espécie. Triste, muito triste. A lenda dos arcádios também é citada, com o impiedoso Zeus punindo-os pelo hábito de canibalizar seus prisioneiros. O Senhor dos Deuses teria transformado os arcádios em lobos e prometera que, ao final de sete anos, caso não tivessem provado carne humana, retornariam à forma original. Todos cumpriram a prova, exceto Licaão (Lycaeus), que carregou eternamente a maldição de se transformar em lobo nas noites de Lua Cheia. Licaão teria sido o primeiro lobisomem da História. Independente do passado, o presente é de pura agonia para Dimitri e Javert. Não importa quem vença a batalha, ambos já perderam suas almas para as trevas.

Monstros clássicos da Universal em versão anos 80