Livro do dia: De não em não
Hoje falaremos sobre um assunto muito importante: a luta contra a fome. A data a ser lembrada neste dia 16 é o Dia Mundial da Alimentação, mas os números seguem alarmantes. Apesar de o último relatório da FAO (Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) revelar uma diminuição de mais de 130 milhões no número de pessoas com desnutrição no planeta, ainda há mais de 850 milhões de seres humanos que sofrem com a fome. Assustador.
Por isso decidi falar hoje sobre um livro dramático e tristemente verdadeiro, escrito pelo grande e saudoso Bartolomeu Campos de Queirós. Uma mãe acorda alucinada com os gemidos dos filhos. Ela tenta em vão retomar o sono, cobrindo os ouvidos em desespero. A mãe sabe o que atormenta seus filhos, a Fome, a “hóspede previsível”. Na casa daquela família reinava o vazio e o resto. A Fome corroera tudo: o relógio do pai, a medalha de ouro da mãe, o rádio – que contribuiu para emudecer o lar de vez – e todos os móveis. Naquela noite, o frio aquecia ainda mais a Fome.
A mãe esquecera o que era o sorriso e o carinho. As bocas somente murmuravam agora, a Fome levara as palavras. As conversas ocorriam todas através de olhares cúmplices, mãos estendidas em vão. Um dia o pai parte para se desfazer do último tesouro da família, as alianças de casamento que simbolizavam um tempo imensamente mais feliz. O pai negocia com a Fome, enquanto a mãe a reconhece no espelho, a loucura em seu olhar.
E como as mães são milagreiras, naquela noite de gemido e insônia, ela buscou uma bacia e a encheu de água. Salgou-a com lágrimas e pescou a lua cheia do céu para dentro daquele mar particular. Chamou os três filhos para a beira do mar e repartiu a lua em quatro pedaços. E antes que a noite desvanecesse, eles comeram a lua no café da manhã. Um livro para arrancar lágrimas e chamar para a luta. Vamos nessa!
De não em nãoAutor: Bartolomeu Campos de QueirósIlustrador: Alê AbreuEditora: GlobalTemas: Perda e superação; MedoFaixa etária: À partir de 10 anosAssista também: Definitivamente o filme mais triste de todos os tempos, O Túmulo dos Vagalumes (Hotaru no Haka, 1988) conta a história – baseada em fatos reais – dos irmãos japoneses Seita e Setsuko, que precisam sobreviver sozinhos à fome e à doença durante a Segunda Guerra Mundial.
Hotaru no Haka, uma verdadeira obra-prima. Amo.
