Era uma vez uma estátua de menina, que num belo dia despertou para a vida. Quer dizer, ela tem consciência de tudo o que acontece ao seu redor, mas infelizmente não pode se mover. Fé é o seu nome. Uma bela estátua representando uma garotinha sentada, com ar pensativo, e um livro aberto no colo. Quanto tempo ela teria permanecido naquela posição? Meses, anos, séculos? Angustiada, Fé começa a falar sozinha, mas logo percebe que tem companhia. A criatura enigmática que conversa com ela é o Tapete, e ainda que não possa enxergá-lo totalmente, percebe que se trata de um lindo e peludo tapete na forma de um tigre. O Tapete não faz rodeios e conta a Fé que ela é uma estátua e sempre esteve naquele cômodo repleto de relíquias. A estátua-menina não quer acreditar em seu infortúnio, ela precisa arrumar uma maneira de sair dali.  

O Tapete é um grande contador de histórias, mas até que ponto ele diz a verdade? Fé sente que é real, mesmo depois de o Tapete lhe contar a história das artes plásticas e falar sobre as outras estátuas de sua família, que também representavam virtudes. Em algum momento da história da humanidade havia existido uma estátua representando a Prudência, e ela seria a avó de Fé. Prudência fora esculpida com duas faces e uma delas conversava com uma serpente. Já a sua mãe, Força, vestia uma armadura e carregava uma bigorna na cabeça. Fé tenta se lembrar deste suposto passado, mas nada lhe vem à mente. 

O Tapete também fantasia sobre sua própria existência. Seria ele um tigre abatido, transformado em tapete? Ou apenas uma imitação? Talvez um tapete mágico? Empolgadíssimo com as narrativas, o Tapete fala ainda sobre princesas encantadas e diz que Fé poderia ser uma delas. Quem sabe ela não sofrera a maldição de uma bruxa, ou ainda, lera um livro de magias proibidas. Tudo é possível. O maior desafio seria então o de encontrar a palavra ou a sequência de palavras que a libertaria daquele cárcere. 

A noite vai caindo (e as páginas do livro vão ficando mais escuras, coisa linda!), e o Tapete continua a contar histórias. Agora é a vez das tristes memórias dos objetos que ocupam aquele cômodo silencioso. Eu, que sou apaixonada por objetos e móveis antigos – e acredito seriamente que cada um deles possua uma alma –, fiquei comovidíssima com tantos relatos de perdas e amores impossíveis (como o do relógio apaixonado pela ânfora). Fé teme que possa ter o mesmo destino dos outros objetos ali esquecidos e imagina-se quebrando em mil pedacinhos de tanta tristeza. Mas ela faz parte de uma família de virtudes e terá sua fé renovada ao receber a luz e a atenção de uma estrelinha no céu. O Tapete ainda tem muito para lhe contar, mas a verdade ela encontrará dentro de seu próprio coração. Livro genial que conheci graças à boa intuição do meu amor. Compartilhe você também com aqueles que lhe são queridos.