Taí uma data que merece ser muito mais difundida e celebrada: o Dia Internacional do Cão-Guia. Comemorado na última quarta-feira de abril, é um dia para reflexão e reconhecimento desta atividade de amor desmedido. Aliás, todo o processo de socialização, seleção, treinamento e adaptação dos cães-guia é envolto em muito amor e paciência. Um trabalho árduo, que infelizmente caminha a passos de tartaruga aqui no Brasil. 

Segundo dados do projeto Cão-Guia (mais informações aqui), existem cerca de 70 cães-guia devidamente treinados no país, sendo que as estatísticas nacionais referem-se a 3,9 milhões de portadores de deficiências e limitações visuais. O treinamento dos cães é longo, monitorado 24 horas por dia. Os custos também são altos. Por outro lado, o número de projetos cresceu nos últimos anos e dá pra nós todos abraçarmos essa nobre causa: são várias as formas de ajudar e divulgar o trabalho de todos esses heróis. Escolha o seu projeto preferido e mão à obra! Dito isso, vamos ao livro do dia. 

Um dia, um cão, foi eleito para representar os honrados cães, especialmente pelo fato da autora, Gabrielle Vincent, suscitar sentimentos tão bons como a ternura e a delicadeza. Ela é musa eterna de Happy Sally, pela forma impactante como entrou em nossas vidas (leia aqui). Utilizando com maestria a técnica de carvão sobre papel, Gabrielle conta a história de um pobre cãozinho, abandonado no meio da estrada. O início é puro drama, com o cachorro perseguindo o carro, incansavelmente. Ele late, desespera-se, lança-se numa corrida sem sentido que o deixa com a língua de fora. Por fim, cabisbaixo, ele desiste. 

Mas as suas aventuras continuam. Ele tenta atravessar a estrada e acaba provocando um acidente entre vários automóveis. Assustado com tanto barulho, gritaria e fumaça, o cão se afasta. Ele caminha e caminha, sem destino. E então ele chega ao mar. Aqui as lágrimas saltam aos olhos, porque a perfeição do trabalho de Gabrielle Vincent comove de verdade. É possível sentir cada uma das texturas da praia: a areia seca, a areia levemente beijada pela água, o mar que se insinua calmamente. A cena mais linda de todas mostra o cachorro admirando o mar, enquanto sua sombra se espicha pela areia molhada. Sim, as ilustrações são feitas “apenas” com carvão. Sim, Gabrielle Vincent foi um gênio. 

É claro que uma data linda dessas não poderia terminar de forma melancólica: o cachorro tem o seu momento na praia, mas continua a jornada com a esperança renovada. Ele chega à cidade, no meio do caos, da pressa, da rispidez e da indiferença. E, no lugar mais improvável do mundo, ele encontra um amigo. Alguém para amar, alegrar e cuidar, até o fim de seus dias. Essa também é a missão dos cães-guia. Uma reverência a esses animais – e humanos – inigualáveis.