Livro do dia: A cor que caiu do espaço

Livro do dia: A cor que caiu do espaço

Posted by Kátia

Hoje é aniversário de um dos meus escritores favoritos (dois, na realidade, leia mais abaixo), para mim o maior gênio do terror de todos os tempos. Mas, calma lá, não indicarei nenhum livro tenebroso para os pequenos e sim um de seus contos mais leves para os grandinhos que estão à procura de algo único. H.P. Lovecraft (1890-1937) não criou apenas livros fantásticos, ele criou toda uma mitologia que o faz ser reverenciado até os dias de hoje. Em seus contos, poesias e romances, há um panteão de deuses que por sua vez inspiraram a criação de lendas. E não foi somente Lovecraft quem escreveu essas lendas. Elas continuam sendo escritas, ainda no século XXI, por uma legião de fãs apaixonados, como Neil Gaiman, Stephen King e Alan Moore. Filmes, álbuns musicais, games, jogos de cartas e de tabuleiro também prestam homenagem a sua obra. 

Para começar, recomendo os contos, e quem sabe um dia você chegue até os mitos do poderoso Cthulhu ou até as intrincadas histórias da Terra dos Sonhos. Seja perseverante, você não irá se arrepender. O livro do dia é indicado para todos aqueles que curtem ciências e apavorantes invasões alienígenas. Então, pegue o seu dicionário – há vários termos científicos e palavras complexas, ótimo para ampliar os seus conhecimentos – e mergulhe na trama misteriosa que envolve um desavisado forasteiro que chega a uma cidadezinha sinistra nas redondezas de Arkham – ilustre cidade criada por Lovecraft, na qual são ambientadas várias de suas histórias e que por sua vez inspirou a criação do Asilo Arkham para Criminosos Insanos nas histórias do Batman, lá nos anos 1970 – com o intuito de fazer um simples levantamento para a construção do novo reservatório. Lá chegando, tem contato com uma mortiça paisagem, que abriga a “charneca maldita”, local estéril e assustador. Tudo em seu entorno parece ter uma cor doentia, com árvores ressequidas, névoa inquietante e um silêncio mortal. Ele fica impressionado e decide consultar Ammi Pierce, que, como diziam as más línguas, era um velho um tanto louco que sabia tudo sobre os “dias estranhos”. 

Para sua surpresa, Ammi Pierce lhe confessa que os tais “dias estranhos” não aconteceram há séculos, mas somente há quarenta anos, o que deixa o nosso sensível narrador ainda mais amedrontado. Tudo começou com a queda de um meteorito nas terras de Nahum Gardner, vizinho e melhor amigo de Pierce. A rocha simplesmente caiu do céu e se enterrou no chão, ao lado de um poço no sítio da família. Foi um alvoroço na cidade e logo chegaram três professores da universidade para analisar o desconhecido material. A pedra quente parecia encolher a cada dia, irradiava um fraco brilho à noite e, curiosamente, tinha uma textura maleável como plástico. Testes foram feitos, mas não se chegou a nenhuma conclusão. Alguns dias depois, os raios de uma tempestade reduzem o meteorito a pó. 

E é aí que o verdadeiro horror começa. A primeira safra de maçãs e pêras de Gardner após o incidente assusta os locais: por fora, frutas gigantes e brilhantes, por dentro um sabor venenoso de morte. No inverno, os animais são afetados e Gardner fica perturbado com as formas das pegadas de esquilos, coelhos e raposas na neve. Todos os bichos sadios parecem ter pavor do local. Cavalos refugam e cães ladram, ninguém quer passar por ali. A família de Gardner, com três filhos homens, fica reclusa. E não demorará muito para que o comportamento deles afaste de vez todos os vizinhos, com exceção do valente Ammi Pierce. Talvez ele devesse ter mantido distância, pois o que seus olhos testemunham deixam-no traumatizado para o resto de seus dias. Ficou com medo? Eu também! Confesso que até hoje fico gelada quando leio os livros de Lovecraft. E por isso mesmo eles são tão divertidos! Enjoy it!!! 

A cor que caiu do espaço
Autor: H. P. Lovecraft
Editora: Hedra
Tema: Histórias de arrepiar
Faixa etária: A partir de 12 anos 
 
Leia também: Mudando da água para o vinho, ou do horror para a doçura, hoje também é aniversário da minha musa eterna Cora Coralina (1889-1985) – leia mais sobre ela aqui – e a nossa dica é o encantador Poema do Milho (Ed. Global). Com belas ilustrações de Lélis, conta a trajetória de vida desta delícia, exaltando a natureza em toda a sua fúria e grandeza. Lindo e apetitoso.

Howard Lovecraft and the Undersea Kingdom, ilustração de Bruce Brown
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