Livro do dia: Bisa Bia, Bisa Bel

Livro do dia: Bisa Bia, Bisa Bel

Posted by Kátia

Hoje é o dia delas, mães, avós, bisavós, tataravós...e o livro do dia vem do fundo da minha alma, do baú da minha infância, para homenagear a minha mãe Antonia, a saudosa vovó Rosa, a cunhada Nilce que será mamãe dentro de poucos dias, a sogrona Conceição, e mais tias e amigas queridas. Mas não somente elas, e sim todas as maravilhosas criaturas deste mundo que são a pura representação do amor. Tive a honra de reler Bisa Bia, Bia Bel essa semana, e tudo o que ele trouxe foi uma sensação deliciosa de mergulhar nos meus dias de criança, a comprar decalques de flores com a minha mãe para decorar meus cadernos ou observar minha avó colher manjericão para o seu insuperável molho vermelho. Eu só tenho que agradecer à colossal Ana Maria Machado por essa experiência extraordinária. Eu literalmente voltei no tempo e isso me fez a pessoa mais feliz do mundo naqueles preciosos instantes. 

Bel é uma garota que tem um encontro inesquecível com a bisavó Beatriz, a Bisa Bia, e a leva para morar dentro de seu coração. Tudo começa com a louca arrumação da mãe, que decide organizar suas coisas e acaba descobrindo uma antiga caixa de madeira dentro da gaveta dentro de um armário dentro de seu quarto. A caixa por si só já é um tesouro: elaborada com madeiras de tonalidades diferentes que formam desenhos, paisagens com morros, casas, pinheiros e nuvens no céu. Encantada, Bel vê a mãe retirar um velho envelope de dentro da caixa, todo amassado, mas cheinho de boas recordações. Retratos e mais retratos. E, de repente, aquele com o qual sente uma profunda conexão. Um retrato oval, em sépia, colado num cartão cinzento e todo enfeitado com flores e laços de papel em relevo. Lindo de perder a fala. Mais linda ainda é a menininha do retrato, uma boneca de pura delicadeza. Cabelos cacheados, vestido clarinho com mil fitas e rendas, uma boneca numa das mãos e um arco – tipo de brinquedo antigo semelhante ao bambolê, mas de metal – na outra. Quem seria aquela fofurinha? 

Bel custa a acreditar que era a sua Bisa Bia, falecida há muitos anos. Mas como assim ela podia ser a bisa se ainda era uma garotinha de laços nos cabelos? A mãe dá as explicações necessárias, mas Bel já está decidida, precisa daquela foto para levar consigo onde quer que vá. A mãe, relutante a princípio, acaba permitindo e Bel não mais se separa do retrato de Bisa Bia. Ela a leva para a escola e a apresenta aos amigos e à professora de História, Dona Sônia, que coleciona retratos antigos. Depois, a convida para brincar e sente a mudança de humores da bisa: o retrato não quer saber de ficar no bolso e também tenta escapar do elástico da bermuda. O que será que Bisa Bia tentava lhe dizer? Certamente que ela devia se comportar como uma mocinha e não ficar pulando por aí como um moleque! Aos poucos, Bel começa a compreender os sinais de Bisa Bia, mas levada que só ela, nem pensa em deixar as brincadeiras de lado: “Sossega aí, Bisa!” 

Apesar do conflito de personalidades, uma coisa ninguém pode negar: Bel e sua Bisa Bia são muito parecidas. O formato do rosto, o queixo levantadinho, ah, e o olhar... A menina segue falando com a bisa e corre para a rua com os amiguinhos a fim de brincar de pique-bandeira (isso com certeza era do meu tempo Smile). Depois do corre-corre, do pula-pula, das marcas de sujeira no pescoço e da camiseta detonada, Bel vai direto para o banho. E cadê o retrato de Bisa Bia? Desaparecido. A menina cria então uma história para si própria, uma história que se torna realidade. Bel guardou a bisa tão grudada na pele e ela gostou tanto disso, mas tanto, que decidiu ficar ali, como uma tatuagem invisível. Melhor ainda: ela passou para dentro de Bel, para viver bem ali, juntinho do peito. Para sempre. 

A partir de então, Bel passa a ter longas conversas com Bisa Bia e ambas trocam experiências. Emocionantes demais são os relatos da bisa, que fala sobre os cromos para enfeitar cadernos (daí veio a recordação dos meus decalques de flor), cartões postais e geladeiras de madeira. Aliás, o trecho da história dos móveis é especialmente comovente para mim, pois recordo-me de cada um deles na casa da minha avó – o bufê, a penteadeira, a cristaleira, a fruteira de vários andares, a compoteira, as garrafas de licor, os vidrinhos de perfume e bibelôs. Lembro-me, aliás, que a minha mãe tinha um daqueles ferros de passar roupa a carvão. Era apenas uma peça decorativa, mas eu adorava aquele ferro. E pensar nele depois de tantos anos trouxe-me conforto, e ao mesmo tempo saudade da minha amada casinha lá de Guarulhos. O amor se manifesta das formas mais improváveis e a história do encontro das três gerações de garotas, separadas pelo tempo, não soa nada impossível para mim. Passado, presente, futuro, ligados eternamente pelo amor dessas mães, que são também filhas e avós e bisavós. Feliz Dia das Mães!!! 

Bisa Bia, Bisa Bel
Autora: Ana Maria Machado
Ilustradora: Mariana Newlands
Editora: Salamandra
Temas: Amor; Família; Universo infantil
Faixa etária: A partir de 07 anos

Leia também: Sei que hoje é Dia das Mães e eu deveria indicar outro livro/filme com o tema, mas tudo o que eu quero é me sentar no colo da minha mãe para ela me contar – pela milésima vez – a história do gato, do rato e do pato e como eles encontraram juntos O Pote de Melado (Ed. Ática). Um clássico da minha infância, inesquecível!!!

Manhê, posso levar o Jotalhão pra casa?
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