Já falamos aqui sobre os excepcionais livros da editora indiana Tara Books e hoje é dia de conhecermos mais um deles, desta vez privilegiando a arte gonde. Os gondes, da Índia Central, nascem, crescem e vivem a vida inteira mergulhados na arte, pois acreditam que a fortuna cabe àqueles que se deparam com uma boa imagem. Por isso fazem questão de se cercar de beleza, cobrindo as paredes e os pisos de suas casas com lindas pinturas. Ou seja, eles já acordam pensando em obras de arte, basta abrir os olhos para admirar uma delas. Bela filosofia de vida.  

Ainda que os membros da comunidade gonde não vivam mais como antigamente, eles sentem-se profundamente ligados à natureza, resquício de seus antepassados que viviam nas florestas, entre as queridas árvores. E como continuo comemorando o Dia da Árvore, cá estou eu com essa pequena obra-prima, que fala sobre árvores do misticismo gonde, árvores aparentemente imaginárias que fazem parte de sua tradição e os impulsionam, os movem, os inspiram.  

Há a história do sembar que brilha, iluminado pela luz de uma multidão de vaga-lumes. E o pimpol, árvore venerada por gondes e hindus, que seria a morada de Shankar Bhagwan, o Criador. A árvore dumar abençoa os casamentos, cedendo sua madeira para o dossel nupcial. A Deusa Serpente também vive numa árvore e sua fúria é sentida por violentos terremotos. O saja é a árvore consagrada aos músicos e a bebida feita com as flores do maurá pode te transformar num camundongo ou num tigre, se você tiver mais sorte.  

São pequenos textos poéticos que casam perfeitamente com a arte em silk-screen de tirar o fôlego. As fenomenais ilustrações das árvores foram impressas em papel preto e esta cor ressalta ainda mais as tonalidades verdes, laranjas, acobreadas e os vermelhos vibrantes que dão uma aura espectral a cada uma dessas entidades. É como se as árvores se revelassem durante a noite mágica. Esplêndido, fantástico, magnífico, uma declaração de amor a esses abençoados seres da natureza.