Livro do dia: O prato azul-pombinho

Livro do dia: O prato azul-pombinho

Posted by Kátia

Feliz, feliz, felicíssimo dia da minha musa inspiradora Cora Coralina (1889-1985), que viveu intensos e saborosos 96 anos, entre panelas de cobre borbulhantes de doces e escritos de poesia. Cora nasceu na Cidade de Goiás e foi uma doceira cuidadosa a vida inteira, perfeccionista ao extremo, tendo lançado o primeiro livro às vésperas de seu 76° aniversário. Sua poesia deliciosa retrata o cotidiano das cidades interioranas do Brasil, em especial Goiás, com seu ritmo lento, os causos passados de boca a boca, e, claro, as receitas de doces e relíquias herdados das gerações passadas. 

Cora aproveitou a comemoração de seu aniversário, no dia 20 de agosto, para instituir o Dia do Vizinho e Dia do Amigo que ainda hoje é celebrado às portas do Museu Casa de Cora Coralina, sua antiga residência e hoje presidido pela generosa e simpaticíssima Marlene Vellasco, que tive a honra de conhecer em 2010. Um dia ainda irei visitar a Marlene e participar desta grande festa. 

Mas, vamos ao livro do dia. Em O prato azul-pombinho, Cora nos conta a história deste tesouro único, remanescente de um jogo muito antigo de 92 peças. Ela ouvia a bisavó contar-lhe emocionada sobre a preservação do prato e também a lenda oriental que estampava seu fundo. 

Era um prato original, muito grande, fora de tamanho,
um tanto oval.
Prato de centro, de antigas mesas senhoriais
de família numerosa
de festas de casamento e dias de batizado.
Pesado. Com duas asas por onde segurar.
Prato de bom-bocado e de mães-bentas.
De fios-de-ovos.
De receita dobrada, de grandes pudins,
recendendo a cravo, nadando em calda.
 

Era uma história de amor proibido, na qual a princesinha chinesa Lui fugia com seu amado, enquanto o malvado pai orquestrava seu casamento com um príncipe todo-poderoso. Todos eles apareciam na cena, os namorados num belo quiosque e o perverso rei de rabicho e quimono, que mandava incendiar o quiosque a fim de reaver sua filha. De uma forma ou de outra. Mas o casal apaixonado fugia num barco e o final da história era um grande mistério. Termino o relato por aqui, aplaudindo a bela edição do livro, à altura da genialidade de Cora. As ilustrações ficaram a cargo de outra artista que admiro muito, Lúcia Hiratsuka, que literalmente nos faz mergulhar no prato azul-pombinho e nos transporta para a China antiga. Parabéns a essas grandes mulheres do Brasil. 

O prato azul-pombinho
Autora: Cora Coralina
Ilustradora: Lúcia Hiratsuka
Editora: Global
Temas: Poesia; Família

Leia também: Ah, eu não consigo pensar em outro livro da Cora que não seja As Cocadas (Ed. Global). “Mas por quê”?, vocês me perguntam. Porque eu sou fã número um de cocada e a cocada de fita, receita de Cora, está entre as maiores delícias que já provei na vida. Prometo que numa próxima ocasião, falarei sobre o livro de receitas dela. 

Compotas divinas: Doce de Abóbora da minha Vovó Rosa (esquerda) e Ambrosia (direita),
receita que aprendi com Cora Coralina
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