Hoje é um dia muito importante para a minha família e para milhares de famílias no Brasil inteiro: o Dia do Imigrante Italiano. No dia 21 de fevereiro de 1874 chegou ao nosso país a primeira expedição de imigrante italianos, a bordo do navio Sofia. Mais de oitenta anos depois, em 1955, a minha avó Rosa e o meu avô Pietro desembarcariam aqui, vindos de Palermo, Sicília, na companhia dos filhos Concetta e Giuseppe – mio babbino caro. Hoje o Brasil tem em torno de 25 a 30 milhões de descendentes dos imigrantes italianos, sendo que quase metade desta população vive no estado de São Paulo. É a maior colônia italiana fora da Itália no mundo inteiro. Fiquei pensando em um milhão de escritores e livros para honrar esta data, e, olha, foi difícil demais eleger Coração. Espero que o livro de Edmondo de Amicis possa ser esse pedacinho da Itália aqui no Brasil. Que muitos jovens possam se inspirar no caráter de Enrico e de seus bondosos pais, amigos e professores. Um romance de formação que finalmente foi relançado (2011) por aqui, depois de décadas de esquecimento.

Tive o privilégio de ler Coração durante essa semana e ainda estou inundada com todos aqueles bons sentimentos. É claro que o livro foi escrito em 1886, época de unificação e patriotismo, solidariedade, sacrifício, humildade, altruísmo, respeito aos pais e mestres acima de tudo. Infelizmente, muitos dos valores retratados no livro foram perdidos, mas como otimista assumida, confesso que acredito no poder desta obra e na inspiração que pode suscitar nos corações de muitos jovens. Ainda que a maioria não faça ideia do que seja um bedel ou um mata-borrão, as boas intenções persistem. Eu acredito nisso.

Mas vamos então ao diário do menino Enrico, que com seus onze anos retorna para o terceiro ano numa escola pública de Turim. Seus colegas de classe são tipos extraordinários, de personalidades complexas, boas, heroicas, ruins, vaidosas e por aí vai. É delicioso ler a descrição de cada um dos alunos, porque Enrico, acima de tudo, tem um coração iluminado, livre de preconceitos. Há Garrone, um tipo grandalhão, careca e um tanto tímido que defende os fracos e doentes. Derossi, o primeiro da turma, tão inteligente quanto piedoso. O engraçado Tijolinho, que vive a imitar um focinho de coelho. Coretti, eternamente animado, mesmo depois de horas de trabalho na loja do pai. Stardi, irritadiço e briguento, um devoto apaixonado dos livros. Precossi, filho de ferreiro, negligenciado pelo pai e extremamente educado. E muitos outros. Para cuidar desta turminha toda chega o Professor Perboni, que começa logo o ano com um discurso emocionante: [...] “Só tenho vocês no mundo, não tenho outro afeto, nenhuma preocupação exceto vocês. Vocês têm de ser meus filhos. Gosto de vocês, e vocês precisam gostar de mim. Não queria punir ninguém. Demonstrem ser garotos de bom coração: nossa escola será uma família e vocês serão meu consolo e orgulho...”

Além das anotações de Enrico em seu diário, temos acesso às cartas que a mãe e o pai lhe escrevem, a despeito de seu comportamento inadequado ou falta de motivação na escola. Seu pai lhe fala sobre heróis de guerra, o valor do estudo, a santidade dos professores e o amor desmedido à pátria. A mãe, por sua vez, discursa sobre a importância da celebração do Dia de Mortos, caridade, abnegação da maternidade. São cartas carinhosas que demonstram encorajamento e confiança no filho que está a um passo da adolescência. Mas as melhores partes, quer dizer, as minhas preferidas, são os contos mensais, que são contos apresentados pelo Professor Perboni e cujos protagonistas são sempre meninos de vários cantos da Itália. Nestes contos, os meninos abrem mão de seus interesses pessoais e colocam a pátria ou o próximo em primeiro lugar. São histórias lindas, arrebatadoras, que fazem chorar e admirar o ser humano. Uma obra-prima recomendada para todos aqueles que se consideram jovens de coração. Feliz Dia do Imigrante Italiano! E com licença que irei preparar uma bela macarronada para comemorar :D