Livro do dia: Mio, meu filho

Livro do dia: Mio, meu filho

Posted by Kátia

Sei que costumo ser um pouco exagerada em minhas paixões, mas, sem brincadeiras: eu esperei a vida toda por Mio, meu filho. E fico imaginando o impacto que ele teria sobre o meu espírito caso o tivesse lido na infância. Por isso digo, com todas as letras: leia esse livro o mais breve possível, peça para a mamãe e o papai lerem contigo, não deixe para depois. Tenho certeza de que ele imprimirá marcas profundas em ti, e, mesmo quando crescer fisicamente, continuará levando a criança dentro do coração. Por causa de vários outros livros, isso é certo. Mas também por causa de Mio, uma obra-prima da genial autora sueca Astrid Lindgren (1907-2002). Para quem ainda não a conhece, Astrid escreveu mais de 70 obras infantojuvenis, que foram lidas por crianças do mundo todo. Premiada com o Hans Christian Andersen em 1958, ela nomeia hoje em dia outro importantíssimo prêmio literário, o Astrid Lindgren Memorial Award (ALMA). Humanitária, altruísta e eternamente sonhadora, Astrid foi uma mulher fabulosa (para saber mais sobre sua obra, clique aqui). 

Como todo bom livro de fantasia, Mio traz a dualidade entre a vida real e a vida imaginada. Num mundo um tanto injusto, Beto (ou Bosse, no original) é maltratado pelos pais adotivos e só encontra apoio e compreensão no ombro amigo de Tonho (Benka) e nas palavras doces de Dona Lúcia, a moça da quitanda. Num final de tarde, Beto sai à procura das torradas preferidas da malvada “mãe” e é interpelado por Dona Lúcia, que, de forma solene, entrega-lhe uma maçã. Ela pede que o menino coloque um cartão no correio e despede-se com um adeus dramático, o que deixa Beto confuso. Prestes a depositar o envelope dentro da caixa do correio, Beto percebe que dele emana um brilho, como se as letras de Dona Lúcia fossem escritas com fogo. Inevitavelmente, o menino espia o conteúdo do cartão e descobre que o destinatário era o Rei da Terra do Longe. A carta falava do Príncipe que chegaria com uma maçã de ouro. Neste instante, Beto se dá conta de que era o próprio tema da carta, já que a maçã em sua mão reluz como ouro. Depois de um encontro atrapalhado com um gênio da lâmpada (quer dizer, da garrafa), Beto percorre o dia e a noite e finalmente chega à sua verdadeira terra natal. 

O menino é recebido carinhosamente pelo pai, que o saúda como Mio e diz que o procurara por longos nove anos. Aos poucos, Mio mergulha naquela nova existência, realizando o grande sonho de ter um pai. Ele conhece o encantado Jardim das Rosas e a música suave dos álamos de prata. Niti-Niko, o adorável filho do jardineiro – e que lembra muito o antigo amigo Tonho – surge como o melhor companheiro de aventuras de todos os tempos. Juntos, eles desbravam o reino. Mio, Niti-Niko e Miramis (o esplêndido e leal cavalo branco de crina dourada que o Rei dá de presente ao filho) são inseparáveis e fazem muitos amigos, mas uma sombra terrível paira sobre eles. É a sombra do cavaleiro Kato, da Terra do Além, que à simples menção de seu nome, faz os animais guincharem e as flores morrerem. Por onde quer que passe, o cavaleiro Kato leva uma criança consigo. E, a cada nova amizade que faz, Mio encontra um família desestabilizada pela perda de um ente querido. Ele sente que algo grandioso e mortal vem pela frente. 

Por outro lado, todos os desejos de sua vida pregressa são realizados de forma mágica. Ele ganha o cavalo perfeito e acampa ao redor da fogueira com Niti-Niko e Nonu, o pastor de ovelhas e lindo tocador de flauta. Entretanto, a melancolia está no ar. Mio e Niti-Niko atravessam a Ponte-da-Luz-da-Manhã e lá conhecem Maru e seus irmãozinhos. A família do garoto também vive assombrada pelo sequestro de uma criança, a irmã caçula de Maru. Numa sequência inspiradora para crianças de todas as idades, os meninos se reúnem para ouvir o Poço-que-Cochicha-à-Noite, um poço que cochicha contos de fadas. Neste momento, o destino de Mio é selado. Ele ouve o poço cochichar a sua história: “Era uma vez o filho de um Rei que cavalgava ao luar. Sim, ele cavalgava através da Floresta Sombria...” 

Mio decide ir então até a Terra do Além e lutar contra o tenebroso cavaleiro Kato, na esperança de vencê-lo e libertar todas as crianças sequestradas. O Rei não tenta impedí-lo. Mio está apavorado e fica ainda mais inseguro quando descobre sobre a profecia. Há mil e mil anos já se dizia que somente um menino de sangue real, montado num cavalo branco, poderia vencer o cavaleiro Kato. Apelando para uma força que não sabia possuir – e contando com auxílios dos mais improváveis -, Mio parte para a escuridão. Com um final que pede muita reflexão, Mio, meu filho, é certamente um livro que mudará a sua vida. Perfeição pura. 

Mio, meu filho
Autora: Astrid Lindgren
Editora: Ediouro
Temas: Amor; Coragem; Fantasia
Faixa etária: A partir de 07 anos 
 
Assista também: Baseado no maravilhoso livro Leaf Men and the Brave Good Bugs, do muso William Joyce (que atua aqui como co-roteirista e produtor executivo), a animação Reino Escondido (Epic, 2013) também fala do relacionamento de um pai com sua prole (aqui a esperta adolescente M.K.) num ambiente de fantasia. Em uma floresta ameaçada, a jovem entra em contato com os tais Homens-Folha e é escolhida pela rainha Dara como sua sucessora. Para cumprir a missão, a menina fica do tamanho minúsculo dos Homens-Folha e, enquanto luta ao lado dos novos amigos, passa a entender melhor as motivações do pai. Very nice Wink

Niti-Niko, Mio e Miramis em versão marionete, adaptação para o teatro sueco, 2012
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