Já falamos aqui sobre a perfeccionista ilustradora, animadora e pesquisadora Ludmila Zeman, e hoje trazemos para vocês mais uma de suas obras de extremo preciosismo. A Epopeia de Gilgamesh é uma das histórias mais antigas do mundo. Foi escrita em tábuas de argila há mais de cinco mil anos na Mesopotâmia – região na qual estão localizados o Iraque e a Síria atualmente. O genial artista Gustave Doré (saiba mais aqui) inspirou-se nas imagens das lutas e horrores das jornadas de Gilgamesh para ilustrar A Divina Comédia de Dante. Zeman inspirou-se em Doré, mas também fez uma vasta pesquisa de coleções de estátuas e relíquias preservadas em grandes museus para recriar o mundo arcaico. Por exemplo, nas placas encontradas por toda Mesopotâmia, Gilgamesh aparece acompanhado por leões para simbolizar a sua força e a sua coragem. 

Há muito, muito tempo, um rei chamado Gilgamesh foi mandado pelo deus Sol para governar a cidade de Uruk. Gilgamesh era parte deus e parte humano, mas não tinha sentimentos. Ele possuía riqueza, poder, prestígio, menos amigos. Na verdade, Gilgamesh era infeliz, e para sufocar essa frustração, decidiu exibir seus poderes ordenando a construção de uma muralha ao seu redor. Os homens trabalhavam dia e noite e às vezes até desmaiavam de fome e cansaço. No desespero, rezaram ao deus Sol pedindo ajuda. A única salvação para os moradores de Uruk seria a chegada de um homem forte que desafiasse Gilgamesh. O deus Sol os ouviu e do barro nasceu Enkidu. 

Uma vez que Gilgamesh não aprendeu nada vivendo entre as pessoas, Enkidu foi enviado para viver com os animais da floresta. Assim que conheceu os animais, aprendeu a amá-los e a cuidar deles. Não gostou do primeiro homem que viu, pois estava caçando um de seus irmãos bichos. Enkidu o derrotou, e logo o caçador voltou para Uruk contando histórias sobre o “homem mais forte do mundo”. Gilgamesh, enfurecido, envia a linda cantora Shamhat para seduzir Enkidu e conduzí-lo até o rei. Na densidão da floresta, a talentosa moça canta, toca uma harpa e a música chega como um feitiço até os ouvidos de Enkidu. Encantado, ele aproxima-se devagar, para não assustá-la. Quando eles se encontram, a magia acontece. E aqui temos a possibilidade de observar com deslumbre a ilustração que registra o encontro entre a bela e a fera e o beijo que sela esse amor. A natureza conspira a favor de Enkidu e Shamhat e até um casal de pássaros beija-se acima deles. 

Apaixonada, Shamhat passa dias de esplendor ao lado do amado e o ensina a falar e a cantar. Ela não quer que Enkidu se aproxime da cidade, mas ele sabe que Gilgamesh está a sua espera. Ao longe, Shamhat lhe aponta Uruk e Enkidu fica admirado, afinal nunca poderia imaginar que uma cidade fosse tão bonita. Gilgamesh grita da muralha para Enkidu e o confronto tem início. Os dois lutam por horas, e no final de tudo Gilgamesh compreenderá o verdadeiro significado do termo ‘ser humano’. Uma valorosa lição, um valoroso livro.