Fico realmente emocionada quando resgato um livro antigo e percebo o tamanho de seu valor nos dias atuais. O livro do dia, escrito em 1994, tem como tema principal a luta contra o desperdício de recursos, e também a importância da reciclagem e a preservação do meio no qual vivemos. Lindo constatar a preocupação da autora, Julieta de Godoy Ladeira (falecida em 1997), que venceu o Prêmio Jabuti e possui extensa obra sobre conscientização ecológica. 

A personagem principal desta encantadora história é uma lixeira de plástico laranja, uma lixeira de “família”, que adora tomar banho, ficar limpinha e cheirosa. O que a deixa furiosa é quando a abrem indevidamente, para descartar talos e folhas de verduras ou cascas de abacaxi (que dá um ótimo suco aliás, basta cozinhá-las e batê-las no liquidificador!). Em seus papos com a geladeira, esta também reclama da mania dos moradores da casa de deixarem sua porta escancarada, como se fosse porta de guarda-roupa. 

A lixeira tem mais dois grandes amigos, o cachorro Fungão, mascote da família, e o gato de rua Cheguei, sempre metido em aventuras pelo bairro afora. Certo dia, a família sai toda em viagem e deixa Fungão com a tia Lulu, que ele jura ser uma bruxa. Temendo ser maltratado, Fungão foge de casa e acaba levando a lixeira junto. Daí começa o tal jogo de não jogar. Conscientes e multiplicadores, a lixeira, Fungão e Cheguei decidem levar a sua Campanha Contra o Desperdício até as crianças e para isso contam com a ajuda da professora Valdete e de um viralata que os apresenta. Valdete inventa um concurso no qual o melhor cartaz sobre o tema ganharia um prêmio. As crianças, empolgadas, não só participam do concurso, como começam a distribuir os cartazes pela vizinhança. 

Enquanto isso, Fungão descobre que tia Lulu está à sua procura e, na tentativa de se disfarçar, acaba metido em grandes confusões. A Campanha Contra o Desperdício cresce cada vez mais e os alunos começam a arrecadar material escolar usado para doar para escolas carentes. As crianças e seus novos amigos animais (e a lixeira, claro!) passam a visitar as casas do bairro, dando informações sobre economia de água, luz, reciclagem e reaproveitamento de alimentos. O jogo de não jogar ganha fama nos noticiários e os une para a vida toda, independente da origem e posição social de cada um. O que importa de verdade é a vontade de ajudar ao próximo e conservar o meio-ambiente. Grande lição da professora Julieta, saudosa escritora de livros inesquecíveis.