Feliz 1º de maio para todos, Dia do Trabalho e também Dia da Literatura Brasileira. Hoje falamos sobre uma de minhas escritoras favoritas – e que ainda não apareceu aqui no blog - a sublime Lygia Fagundes Telles. Eu já tive a honra de encontrá-la em diversas ocasiões desse nosso tão vasto mundo livro e afirmo: ela é realmente uma criatura extraordinária, com uma vida incrível e, do alto de seus 92 anos, ainda tem ótimas histórias para contar. Uma lenda viva. Então é com imenso prazer que apresento essa antologia com alguns de seus contos de amor mais densos e dramáticos, certamente recomendado para os mais crescidos. 

Aqui, há personagens que revisitam o passado como é o caso da menina meio bicho do mato – agora já adulta – de As cerejas, que recebe com fascinação as visitas de Marcelo, um primo charmoso e arredio, adepto da montaria e também a da elegantíssima Tia Olívia, com seus olhos pintados de verde e suas histórias da Europa. Será um verão de calor escaldante, no qual a jovem fará intrigantes descobertas. Em O encontro acompanhamos os passos de uma mulher que adentra um bosque, reconhecendo cada árvore do caminho mesmo com a certeza de nunca ter estado ali antes. Um sonho, talvez? No final do caminho ela encontra uma moça com estranhas vestimentas de amazona e aos poucos recupera suas memórias. Já no avassalador Apenas um saxofone conhecemos a história da autodeclarada "Luisiana", uma riquíssima senhora que fala com uma sinceridade absurda sobre o passado, quando conheceu o amor ao lado de um saxofonista devotado (até demais). 

Um de meus contos preferidos é As Pérolas, uma história linda de amor que transcorre praticamente durante o diálogo de um homem doente e sua exausta, porém bela esposa Lavínia. Ela está se arrumando para um encontro com velhos amigos, entre os quais está Roberto, que a amou durante toda a vida. Enquanto a observa, o enfermo projeta o futuro de Lavínia após sua partida, obviamente nos braços de Roberto. Ela, de bom grado abriria mão da festa para ficar com ele, mas o homem se cala, não tem palavras para impedir a felicidade futura da amada. Melancólico, pungente, mas ainda assim, lindo. Herbarium, delícia de conto, fala sobre uma menina que está coletando folhas para o herbário do primo, por quem é secretamente apaixonada. 

Um sentimento não correspondido também é o tema de Pomba Enamorada ou uma história de amor – considerado uma verdadeira obra-prima por ninguém menos que José Saramago. Na noite em que é eleita a Princesa do Baile de Primavera, uma jovem imagina ter encontrado o amor de sua vida na figura de Antenor, moço inquieto e avesso a compromisso. O tal momento mágico de ambos - que só existiu na cabeça dela - dura apenas uma música. Assim que a valsa acaba, ele a deixa e a apaixonada passa a seguí-lo por todos os cantos. Desesperada de amor, ela começa a lhe escrever cartas nem tão anônimas sob o pseudônimo de Pomba Enamorada. Lealdade genuína - e de mão única - que perdurará durante toda uma vida. Infelizmente a antologia não contemplou aqueles contos que mais amo como A fuga, A caçada, Biruta e o quase gótico (e ultrarromântico) Venha ver o pôr do sol. Os três primeiros eu até compreendo por conta da temática, mas Venha ver o pôr do sol, para mim, é uma das histórias de amor mais assombrosas de todos os tempos. Aliás, se eu for enumerar os contos geniais de Lygia não teríamos espaço aqui. Acho que oito é um bom começo, mas retomaremos esse papo no futuro, com certeza!