26 Jun
Livro do dia: O livro de todas as coisas
O escritor holandês Guus Kuijer planejava escrever um livro sobre a sua infância feliz, ao lado do pai violinista, a mãe soprano, irmãos que o adoravam e amigos que compartilhavam seu bolo de aniversário. Mas então Guus conheceu o senhor Thomas Klopper. O velho homem, já com os cabelos brancos rareando no topo da cabeça, disse que tinha uma história para lhe mostrar, a história real de sua infância infeliz, rude, grosseira. Guus, espantado, leu o relato de uma sentada só e decidiu que era aquela história que merecia ser contada.
O livro do dia acompanha um verão da vida de Thomas, em 1951, quando ele tinha nove anos e morava em Amsterdã. Thomas era um garoto incomum, pois enxergava coisas que outras pessoas não viam. Por exemplo: ele viu todas as folhas das árvores de uma determinada rua serem varridas pelo vento (em pleno verão!) e ao contar para a mãe o ocorrido, é claro que ela não acreditou nadinha nele. Ainda bem que ele tinha o “livro de todas as coisas”, no qual escrevia tudo o que de mais extraordinário e doloroso acontecia em sua vida. Seu maior sonho: “quando eu crescer vou ser feliz”.
Nada escapava aos olhos atentos de Thomas: os peixe-espada que tomaram os canais de Amsterdã; a perna postiça e a mão deformada da adorável garota Elisa, por quem era secretamente apaixonado. Presenciou também os anjos chorarem, em todas as vezes que o pai, um fanático religioso, bateu em sua querida mãe. Thomas também apanhava, mas não se importava. A irmã adolescente Margot agia como louca, e assim vivia a família.
Mas o destino de Thomas começa a mudar no dia em que ele ajuda sua vizinha, a senhora Amersfoort, que tinha grande fama de bruxa na vizinhança. Tudo começa grandioso neste encontro: Thomas ouve sinos badalando em seus ouvidos, que depois se transformam em música com muitos violinos, um som que o menino jamais ouvira antes. No interior da casa da senhora Amersfoort, em meio a livros, um gato preto e um refrigerante da cor do sangue, Thomas descobre que ela é mesmo uma bruxa e que perdera o marido na guerra. Ela também era uma senhora capaz de imensa delicadeza e encanto, traduzidos num encontro com Beethoven que é inenarrável. Maravilhoso, esplêndido livro, chorei litros e abracei o pequeno Thomas em meus pensamentos. Leiam, é verdadeiramente especial.
O livro de todas as coisasAutor: Guus KuijerEditora: WMF Martins FontesTemas: Medo; Preconceito; FamíliaFaixa etária: À partir de 12 anosLeia também: Acho que ainda não comentei aqui, mas Charles Dickens é um dos meus autores preferidos. Enquanto a época de Natal não vem com um belo post especial, fiquem com David Copperfield (Ed. Scipione), garoto que tem uma infância difícil depois de perder a querida mãe e ser abandonado pelo padrasto.