O escritor alemão Michael Ende é meu leal companheiro desde a infância, ao lado dos já mencionados Roald Dahl, Mauricio de Sousa, Ziraldo, Júlio Verne e Ruth Rocha. Cresci encantada com suas histórias repletas de seres fabulosos e crianças predestinadas como em Momo e o Senhor do Tempo - que no Brasil foi lançado primeiramente com o título Manu, a Menina que Sabia Ouvir - e A História sem Fim, ambos transformados em filmes de grande sucesso nos anos 80. Quem foi criança nesta época certamente quis voar com o dragão Falkor (Fuchur no original) na já clássica aventura. 

Mas hoje falarei sobre uma história menos conhecida de Ende e que significa muito para mim. Já disse algumas vezes que histórias sobre perda estão entre as minhas preferidas, mas o livro do dia traz algo a mais, uma vez que tem como tema a arte. Eu adoro teatro, na realidade sou fascinada por teatro que envolva marionetes, fantoches ou sombras. Amo de verdade. 

O teatro de sombras de Ofélia narra a jornada de uma velhinha solitária e bem disposta que recebeu o seu nome por causa da famosa personagem de Shakespeare. Seus pais queriam que ela fosse uma grande artista do teatro, mas seu tom de voz muito baixinho não permitiu. Então ela se tornou um “ponto”, que é a pessoa que sussurra as falas para os atores. Com o tempo, porém, o público deixou de ter interesse por aquele pequeno teatro localizado naquela pequena cidadezinha e a senhora Ofélia acabou perdendo o emprego. Antes de deixar seu amado local de trabalho, entretanto, Ofélia é surpreendida por uma sombra sem dono. Sempre generosa, a velhinha convida a sombra a ficar com ela, porque também “não tenho ninguém e não pertenço a ninguém”. 

A notícia da senhora acolhedora de sombras atrai muitas outras desgarradas e Ofélia aceita todas em seu lar. Mas as sombras começam a brigar entre si, disputando espaço e atenção e Ofélia acaba despejada de seu quartinho. Sem ter para onde ir, Ofélia caminha, sem se desesperar em nenhum momento. Ela é o tipo de personagem de fibra, que não se abate e ainda tem cabeça para se preocupar com o próximo. As sombras, arrependidas, reconciliam-se entre si e decidem montar um teatro de sombras para ajudar a nobre amiga. Delicado, inspirador e com a dose certa de melancolia, um livro para pais, filhos e avós, com certeza!