Livro do dia: O elefante escravo do coelho

Livro do dia: O elefante escravo do coelho

Posted by Kátia

O fabuloso grupo Giramundo de Teatro de Bonecos foi criado no início dos anos 1970 em Belo Horizonte e desde então tem nos agraciado com espetáculos inesquecíveis, como Pedro e o Lobo, Pinóquio, Vinte Mil Léguas Submarinas, Alice no País das Maravilhas, o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, A Flauta Mágica e A Bela Adormecida – sendo esta a primeira peça encenada pelo grupo, no fundo de um quintal em 1971. Álvaro Apocalypse (1937-2003), um dos fundadores do Giramundo, realizava então o seu sonho de criar filmes animados através da animação em tempo real, ou seja, o teatro de bonecos. 

A partir do sucesso da primeira peça, o grupo viajou para a França, mais precisamente para Charleville-Mézieres, a fim de obter mais conhecimento naquela que é a cidade-sede do maior festival de teatro de bonecos do mundo. O contato com novas técnicas de manipulação e construção e a dimensão das montagens e das companhias deram nova perspectiva ao grupo que, de toda forma, continuou influenciada pelos temas populares e brasileiros tão caros a Álvaro Apocalypse. A figura de Álvaro, aliás, inspirou diversas gerações de marionetistas. Com uma carreira assombrosa de três décadas à frente do Giramundo, ele dirigiu vinte montagens e confeccionou mais de mil marionetes. Uau! É de cair o queixo mesmo!!! Eu aplaudo de pé esse mito que sempre foi um ídolo para mim. Já disse por aqui e sempre repito, o meu sonho nunca foi o de fugir com o circo e sim com o teatro de marionetes e grande parte dessa paixão que me acompanha até hoje eu devo ao grupo Giramundo – outra grande parte eu devo a Jim Henson, mestre marionetista criador dos Muppets. 

Enfim, estou compartilhando a emocionante saga do Giramundo porque hoje é celebrado o Dia Nacional do Teatro de Bonecos e é claro que escolhi um livro da pequena e preciosa coleção Giramundo Reconta. Por enquanto são três títulos lançados pela editora Autêntica, nos quais o grupo reconta contos populares do mundo utilizando os seus maravilhosos e célebres bonecos. E quem nos introduz ao conto popular de Moçambique é o simpático Zé do Conto, personagem-boneco criado especialmente para narrar essas histórias. “Então foi que era uma vez”... 

O protagonista da história é um coelho espertinho e cara-de-pau, que inventa uma maluquice e depois tem que rebolar muito para sair da confusão. O conto começa com o saltitante Coelho comendo a sua cenoura e ouvindo a conversa alheia. Debaixo de uma árvore enorme, ele encontra uma pequena multidão: são os animais da floresta, que não conseguem resolver um problema e aguardam a chegada e uma solução por parte do chefe, o Elefante. O Coelho acha a história toda absurda, onde já se viu, o Elefante, chefe de alguma coisa? E solta essa: “Fiquem sabendo que o Elefante é meu escravo, isso é o que ele é”! O abusado ainda complementa e diz que o Elefante atende a todos os seus desejos, escova-lhe o pelo e o carrega nas costas sempre que é ordenado. Os bichos todos ficam em polvorosa e o Gorila ri dele, como é que um grandalhão daqueles seria escravo de um pirralho? 

O Coelho não se dá por satisfeito e retruca que tamanho não é documento. Ele é tão enfático que os outros animais acabam se dispersando. Rapidinho, o Coelho se manda para casa, vai que o Elefante resolve aparecer por lá. E é isso mesmo o que acontece, o Elefante chega todo imponente – e o boneco do Elefante é esplêndido, com lindas orelhas de couro. Ao saber da “lorota” que o Coelho inventou, ele fica enfurecido e seu bramido ecoa por toda floresta, chegando até, adivinhem, à casa do Coelho. Agora o danadinho terá que usar toda a sua astúcia para escapar da fúria do Elefante, porque ele vem com tudo e quer esmagar o Coelho em mil pedacinhos! 

Os animais da selva africana – Macaco, dois Suricatos, Leão, Papagaio, Impala, Gorila, e claro, Elefante – são esculpidos na madeira à perfeição, dá para notar cada detalhe da carinha dos suricatos, e também a força física do Gorila e a agilidade do Macaco. Genial. Eles interagem numa floresta de tons terrosos e também em outros ambientes onde domina a textura de palha. Perfeito, de emocionar às lágrimas, afinal é tanto carinho e dedicação para contar uma história que o amor deles transborda e invade cada um de seus leitores e espectadores. E já que hoje estamos comemorando essa data tão sensacional, conheça também outros grupos de teatro de bonecos do Brasil, são tantas companhias encantadoras, veja lá: Caixa do Elefante, Cia. Truks, Gente Falante, Pia Fraus, Polichinelo, Mamulengo sem Fronteiras, Girino, etc, etc. Só não vale se empolgar demais e tentar fugir com o teatro de bonecos você também. 

O elefante escravo do coelho
Autor/Ilustrador: Grupo Giramundo
Editora: Autêntica
Temas: Contos populares; Teatro; Arte
Faixa etária: A partir de 04 anos 
 
Assista também: Música de Brinquedo era um álbum fofo da adorável banda Pato Fu. Mas daí eles convidaram o grupo Giramundo para fazer parte da turnê e a coisa atingiu outra dimensão. Música de Brinquedo Ao Vivo traz o show em dvd com covers de músicas clássicas do pop/rock nacional e internacional como Sonífera Ilha, dos Titãs, Ovelha Negra, de Rita Lee e Love Me Tender, de Elvis Presley. Junte a isso inusitados instrumentos como um vibrafone de criança, miniteclados, um saxofone de plástico e um elefantinho que ronca e, para arrematar, a performance dos amados bonecos do Giramundo. Beleza pura.

Popotskaya, musa bailarina do irretocável espetáculo O Carnaval dos Animais
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