Livro do dia: Florbela Espanca - Antologia de poemas para a juventude

Livro do dia: Florbela Espanca - Antologia de poemas para a juventude

Posted by Kátia

Que maravilhoso é esse mês de dezembro repleto de celebrações e que ainda por cima me presenteia com os aniversários dos meus poetas preferidos. Falamos no post anterior sobre o meu poeta número um e hoje é dia de falarmos sobre a minha poeta favorita, absoluta, minha alma gêmea, musa para toda a vida, Florbela Espanca. Florbela nasceu na pequena Vila Viçosa, que fica no distrito de Évora, em Portugal, no dia 08 de dezembro de 1894. Em sua curta trajetória (faleceu aos trinta e seis anos de idade), Florbela viveu de forma intensa, com paixões avassaladoras e dramas épicos que foram transpostos para a sua arte.

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem para dizer!
São talhados em mármore Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer!

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda.
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não fiz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

A idealização e a sede de amores não consumados, a aspereza do ofício de poeta, os elementos mágicos dos astros e da natureza (Florbela amava muito as flores e dedicou vários poemas a elas), a devoção aos seus ídolos das letras – especialmente a António Nobre, por quem nutria verdadeira adoração, e também pelos ultra românticos Victor Hugo e Goethe. Esses são os temas recorrentes na obra desta mulher excepcional e tão duramente incompreendida. Ignorada por anos a fio tanto pelo público leitor quanto pela crítica, Florbela, por sua vez, tinha medo de se expor demais. O horror por tudo o que se assemelhava a popularidade a levou a fechar-se em si mesma. E só saiu deste casulo metaforicamente, anos depois de sua morte, para tornar-se como que uma rainha da literatura em língua portuguesa. 

Dores, ansiedades, sombras, névoas e saudades. Florbela é mesmo esse turbilhão de sentimentos, essa revoada que passa da apatia à paixão desmedida, da pura melancolia ao amor mais ardente. Ela viveu, sentiu, chorou cada um de seus versos. Para mim, a poesia de Florbela é o que há de mais verdadeiro no mundo. Sou fã talvez um tanto exagerada, daquelas que iria até qualquer livraria ou sebo do mundo só para ter em mãos mais uma edição de sua obra. Já fiz isso e voltarei a fazer, sempre a oportunidade se apresentar. Florbela é inspiração para os meus dias. 

A presente antologia faz parte de uma coleção da editora Peirópolis chamada Madrinha Lua, que justamente homenageia mais uma de nossas grandes poetas, Henriqueta Lisboa (leia mais sobre ela aqui). A coleção conta, entre outros títulos, com uma antologia de poemas portugueses organizada pela própria Henriqueta. Imperdível! Não tem como não favorecer essas mulheres maravilhosas. Sou culpada, admito, mas duvido que você não se apaixone também...

Florbela Espanca – Antologia de poemas para a juventude
Autora: Florbela Espanca
Organizadora: Denyse Cantuária
Editora: Peirópolis
Temas: Amor; Poesia
Faixa etária: À partir de 14 anos 

Leia também: Todo ser humano com um coração pulsante merece ler Só, ou o livro mais triste que há em Portugal, escrito pelo muso de Florbela, António Nobre. A edição Só Seguido de Despedidas (Ateliê Editorial), vai te levar a um universo extremamente pessoal, familiar e contemplativo da cultura popular lusitana. Altamente recomendável Smile

Saudade, de Almeida Júnior, 1899
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